MODELO FALIDO
30 de Janeiro de 2006
Ela possui mestrado, doutorado, livros
publicados e é professora de filosofia - Nietzsche, o guru. De tanto
tomar vinho na penumbra de um bar para discorrer sobre a crítica da
razão, começou a arejar a mente. E a criar uma desconfiança das mulheres
intelectuais. A olhar para o seu corpo e a melancolia que dele vertia. A
rata de biblioteca adernava sob o peso da vida acadêmica, urgia se
aproximar das ditas mulheres comuns. Jamais se depilava, nem as
sobrancelhas, na exaltação à feiúra.
Gastou os melhores anos de sua vida com uma relação de caráter
professoral, em que a aluna absorve a experiência do mestre, com
carinho. Essa classe de homem não acredita que a doutora possa extrair
da profundeza de sua alma a raiz-forte que faz arder a crueza dos
sentimentos e prevalecer o sentimento sobre a razão, a imaginação sobre
o espírito crítico. Há que se manter a uma distância segura do que ele
interpreta como sentimentalismo exacerbado, sonhador, desprovido do
senso de realidade. Há que evitar os desatinos cometidos em nome do amor
e perseguir o equilíbrio para preservar a postura superior diante da
mediocridade reinante. Há que permanecer insensível.
Agora que resolveu descer do Olimpo e se
misturar aos comuns, se amarrou ao cãozinho sem dono, com gestual
retraído, fala zen e jeito de quem está sempre pedindo licença. A
transição do homem que era um pai para aquele que ela coloca no colo.
Existe uma dignidade no menor que não se encontra no maior, bem
acomodado no papel de dono da verdade.
O relacionamento como uma história em quadrinhos escrita a
quatro mãos, ameaçado por monstros e insetos pegajosos, onde tecem as
próprias entranhas e não há mais corpo. Também pudera, o orgasmo não
existe. Transita da filosofia que é refletir, discutir, buscar a
lucidez, saber perguntar, ser irônico, e desvia o olhar para a bela
prosa irracional. Abandonando a luta pelo poder no meio acadêmico para
descobrir como é divertido ser mulher, quando voam plumas, farpas e
anedotas.
O anedotário de brincar com a libido do homem, desarrumando-se
estrategicamente para fazer compras no supermercado, com macacões que
realçam sua boa forma. Quando não freqüenta a missa das oito da manhã de
domingo. Esconde a idade dos filhos para não passar a impressão de ser
mais velha. Flexibiliza o padrão de suas relações para transparecer que
não busca nada a sério. Não coloca o menor obstáculo quanto aos locais e
modalidades dos intercursos sexuais. Acabando por atender à principal
fantasia do homem.
Mulheres que incorporam o modelo falido do homem no ato
confesso de que perderam as esperanças de papai e mamãe, marido e
mulher, companheiros na síntese. Na crença de que conseguiram substituir
a relação por um jogo de ilusões que exerce o fascínio de uma aventura
em busca do orgasmo perdido. Recuperado no frenesi do proibido ou
merecedor de censura que cheira a inveja, na satisfação que provoca ao
vencer uma suposta barreira que só existe em mentes hipócritas e
chegadas a falcatruas.