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OS HOMENS SÃO NECESSÁRIOS?
13 de Fevereiro de 2006

Ela fez rigorosamente tudo que teve vontade de fazer. Adorava o glamour da vida que levou, mas sem capacidade de grandes renúncias para casar com um ricaço e se tornar um bibelô. Não queria ser objeto na vida de ninguém. Embora houvesse talento para transformar o que poderia soar fútil em algo significativo, graças ao seu olhar crítico e sagaz sobre o cotidiano.

Nenhuma festa dura para sempre. Hoje ela vive só, quase não sai. Tomou horror a festas. Mesa com mais de quatro pessoas então, nem se fala. Não está mais na fase de fazer concessões e não conseguiu se livrar do seu maior defeito: a falta de paciência. Restou-lhe um trono sem coroa, um reino sem súditos.

Mas continua achando que não há nada melhor na vida de uma mulher do que o olhar de desejo de um homem. Mais importante do que ser amada. Não há com o que comparar sofreguidão, volúpia e fome de amar quando alguém a segura pelo braço com firmeza e pergunta: “o que eu devo fazer pra você ficar comigo?”. Circular incólume sem se sentir objeto do desejo desanima e desgasta as perspectivas, afora a inveja de outras mulheres que a julgam sem pudor e acabada.

Contudo, considera-se feliz com a rotina e a paz por não precisar mais sair atrás de marido. O que facilita abrir uma garrafa de champanhe e comemorar o aniversário sozinha, revendo o filme “O céu que nos protege”. Identifica-se com a turista americana insatisfeita com o casamento que mergulha no coração da África, fascinada por desertos e o poder de sua natureza desconhecida, a ponto de fazê-la se apaixonar pela figura mística de um beduíno que a encarcera e estupra com o seu consentimento. Depois que é libertada, fecha os olhos e finge dormir para não ter que falar.

Falar o quê? Se estava se sentindo presa numa gaiola e não queria viver daquele jeito. Nenhum homem conseguiu corresponder às suas fantasias, nem em termos de elegância, nem de conhecimento do mundo, nem de sofisticação. Atraía os possessivos, cuja palavra de ordem era opressão. Quando o que uma mulher quer é romance. Um homem que faça canções de amor e escreva cartas apaixonadas. Que diga que vai morrer se passar um dia sem ela. Que estenda um tapete vermelho a seus pés:

- Se ele tiver todo o tempo do mundo, não só para escutar, mas para discutir e aconselhar, eu, que sempre fui independente, até deixo ele mandar em mim. Será que é tão difícil sacar que as mulheres precisam ser cuidadas?

Mas se a paixão não foi feita para durar e acabar bem. Ao criar dependência, traz sofrimento e angústia, tornando-se sombria, quando não trágica, excluindo a fantasia da felicidade à medida que o casal revê seus papéis e se organiza para manter a relação. Vale a pena continuar. Ou vamos fugir? A dúvida faz o homem sentir medo e se refugiar no tipo que não pode ver um rabo-de-saia. E ela se arvora em ser a única dona de sua vida, sem ninguém com quem dividir dores e alegrias, mas olha para o telefone esperando que toque para não se sentir tão só.

- É uma delícia acordar no meio da noite e ver o homem que você ama dormindo ao seu lado, mas é preciso escolher entre a liberdade e um homem.

Os homens são necessários? Por que as mulheres bem-sucedidas afastam os homens? Quanto mais os ameaçam, mais elas se isolam e se desgarram ao sabor de sua revolta com o prestígio e boas colocações que tornam homens mais desejáveis para o sexo oposto, ao contrário do experimentado por mulheres que se destacam em suas carreiras. Enquanto os machos preferem casar com suas secretárias e divulgadoras, as mulheres que buscam uma relação de igualdade são tachadas de narcisistas autocentradas e atraem rejeição.

O pós-feminismo gerando conflitos amorosos aos borbotões. A disputa entre os sexos no mercado de trabalho e a confusão sobre que papéis desempenhar no teatro da família. A saturação de imagens sexuais explorando a masturbação para aliviar a tensão da competição que se intromete no lar. A obsessão com aparência e juventude na pretensão de aumentar a vida útil e permanecerem ativos em sua energia priápica. Tamanhos conflitos empurram o homem para baixo, face à insensibilidade irradiada no gozo de suas conquistas, onde a malvada da carne mal disfarça que o seu interior é oco. Tanto que o deixa tonto. A girar em torno de sua triste figura quixotesca que o empurra para uma jornada em que descobrirá no seu vazio um buraco imenso que não terá como preencher. Ao fazer da impassibilidade a arte de viver. Uma inércia que boicota a entrega aos sentimentos mais puros e cala sua adesão à repactuação do amor.

Quanto mais as mulheres tentam ocupar seus silêncios com sexo, inquietação ou revelações, mais ele se encolhe. E mais evidente fica que nunca compartilharam nada entre si. Todos aqui somos estranhos mútuos. As flores murcham defronte a tantas limitações afetivas. Nada é comparável ao arrependimento pelo que se deixou de fazer.

 
Antonio Carlos Gaio
 
 

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