A NATUREZA DO FALO
25 de Setembro de 2006
Os homens vivem imersos numa ansiedade
brutal: precisam corresponder a tudo que se espera deles. A expectativa
de ser bem-sucedido no trabalho e no relacionamento com as mulheres os
limita. A competição os torna arrogantes e insensíveis. A derrota os
humaniza. Como relaxar, se lhes é exigido sempre controle emocional,
convicções firmes e independência? Não pode ser menos, tem que ser mais,
senão é um fraco. Eles apenas sorriem, com ar superior, quando as
mulheres dizem que tudo é mais fácil para eles. Por séculos e séculos,
elas os incentivaram a ter uma postura incisiva, traço esse que os faz
serem mais respeitados e a obterem o que desejam. O que derivou para
brigar de forma agressiva por seu espaço e nunca demonstrar falta de
confiança, costurando uma couraça em torno de sua personalidade.
Inicialmente para sobreviver, depois para as coisas ficarem sob seu
controle. Homem que é homem não vive pedindo desculpas e se diminuindo
perante os outros, senão é mulherzinha. O mundo passou a acreditar neste
discurso e na imagem vendida. Quando elas hesitam, eles aproveitam para
posar de professores.
A forma das mulheres de encarar a vida e de se relacionar com
as pessoas não encontra paralelo entre os homens: elas não se cansam de
exprimir o que sentem. Se desesperam quando eles falam por meio de
resmungos ou abusam do silêncio - aos seus olhos, são criaturas
fechadas.
Pela natureza de seu falo, os homens foram
adestrados para a conquista. As mulheres, a esperar que eles se
aproximem e façam a corte. Quantos casamentos arranjados não foram
celebrados até que as mulheres abandonassem a lei do menor esforço? Os
homens passaram a ter de contar com a sorte e gastar muita conversa para
não levar um fora. Regidos pelo dogma de que homem de verdade não
desiste nunca, não importa quantos foras leve. A lidar com a rejeição,
terreno no qual vê o seu poder abalado, ao constatar que as mulheres
podem tirar vantagem de sua fraqueza. Sofrem baixas em seu campo de
atuação à medida que a mulher avança e conquista posições,
desautorizando as feministas que pregavam a extinção pura e simples do
homem. De renitentes infiéis, recuaram para uma atitude defensiva em
virtude da masculinidade ser confundida com machismo.
O resultado é que, atualmente, o homem goza de péssima
reputação. O que não diminui nem um pouco o condicionamento de pagarem
prostitutas para satisfazer o impulso meramente físico, já que, ainda
hoje, é complicado se abrir com suas mulheres ou namoradas sobre
fantasias sexuais. Partem do princípio de que elas simplesmente não
entenderiam e ficariam chocadas com o que circula pelo seu imaginário.
Como explicar por onde se intromete o desejo e as reais intenções do
olho comprido? Se seu coração arfa de ansiedade quando uma voz rouquenha
despeja sensualidade. Se mal se segura quando um olhar carente o
vasculha. Se o formato das costas e a maciez da pele lhe causam
palpitações. Para que tanta abundância nos diversos tamanhos e formatos
dos seios? Deus se superou quando criou as mulheres para compensar o
homem com um pé nas cavernas.
Mas ela interpreta seu mergulho nas entranhas do universo
feminino como apenas uma fuga para não estreitar os laços que os fizeram
se aproximar. Deriva para sua veia poética ao invés de embarcar no curso
do rio que procura a foz. Somente à boca pequena, quase em segredo, é
que os homens podem dividir sua vulnerabilidade com outros iguais,
desqualificando as mulheres como interlocutoras confiáveis por
misturarem informações privadas com posse e ciúme.