O IMPERADOR E SUAS
CONCUBINAS
04 de Dezembro de 2006
O imperador da China e suas concubinas.
Variavam em torno de 20, 50, 100 por imperador, que importa o número?
Como é que um homem podia dar conta de todas essas mulheres ao longo de
sua vida útil? E quando ele desejava uma mais do que as outras? Aquela
ali do canto. Sua preferida. Queria estar mais tempo com ela. Possuí-la
de maneira especial. É amor? Afinal, todo imperador tem seu dia de Orfeu
para resgatar sua Eurídice.
Então ela se tornaria a nova imperatriz, ou a favorita. E se
mais tarde viesse a se apaixonar por outra? Sim, porque com tantas
mulheres à sua disposição, de repente, ele acaba se apaixonando de novo.
Questão considerada irrelevante para a época, visto que ainda hoje todos
raciocinam de forma machista: “Com tantas beldades, você acha que ele
vai amar alguém?".
A exemplo do mundo globalizado de hoje, em que
basta implicar com um jeito impertinente de falar ou um ser azedo, para
se proceder à substituição de parceiros, evidenciando a liberação de
costumes a que chegamos para iniciar e terminar relacionamentos.
Descarta-se sem pudor.
Todavia, o poder de veto ainda não foi assimilado pelo homem,
haja vista os ensandecidos conflitos entre os dois sexos que se
generalizaram a partir daí na arena dos relacionamentos. Soltas as
amarras, vem se pagando um preço alto pela permissividade. Ao se
carregar demais nos temperos, o que era delicioso passou a ser
intragável.
O mundo não anda mais, corre acelerado. Você tem de correr
atrás. Atrás da terapia breve para resolver o quanto antes seus
problemas existenciais. Tranqüilamente pode-se empurrar o louco para
fora do hospício porque ele não se sentirá tão diferente dos outros. Em
meio à disparada, nos esquecemos dos sentimentos. Dos laços frouxos que
estabelecemos. De que abrimos mão de uma amizade de longa data por
termos desaprendido a cultivá-la. O pacto nupcial, de sólido ao ar
rarefeito. Não se admite opiniões contrárias à sua porque não se pode
esperar o tempo necessário para saber “o que eu sinto por você".
A prática avassaladora da ciranda do amor procria incontáveis
relações trânsfugas. Parece que o homem é o centro dessa questão, mas a
mulher se insere pouco a pouco. Quase não se conversa a respeito por se
tratar de um tabu que ainda sobrevive à revolução sexual. Associar
número elevado de parceiros a ser devasso e libertino é do tempo que
sexo era tabu e educação sexual era matéria de competência dos pais.
O próprio vocabulário não ajuda muito a esclarecer os novos
costumes, visto que, no popular, relação é associada preferencialmente a
sexo, enquanto relacionamento mal consegue definir se é namoro,
casamento em casas separadas, experiência conjugal, caso, amizade
colorida, esposamante, dona flor e seus dois maridos, ou simplesmente
ficar. Se uma relação durou três meses e os namorados dormiam juntos
duas vezes por semana, era um exercício do direito de liberdade sexual
ou já resvalou para a tentativa de construção de um relacionamento?
Como as convicções sobre o amor estão abaladas, às vezes faz-se
necessário investigar se realmente você está interessado no parceiro e
se a relação irá vingar. Nessas circunstâncias, você investe o seu afeto
e avalia o que vai render dentro de um prazo de modo a não incorrer em
perda de tempo. Caso contrário, o contrato estará automaticamente
rescindido. A natureza frouxa desse relacionamento implica em que ambas
as partes têm permissão para recorrer à infidelidade. A traição perde
sua capital importância no resgate de compromissos, sustam-se cobranças
no expurgo dos juros de dívidas afetivas.
Qual é o limite da permissividade das infidelidades? A
alternância de companheiros deve preponderar sobre a incompatibilidade
de gênios? Ou a tolerância deve conduzir à abertura do relacionamento,
sem extingui-lo? Imbuído do propósito de apenas recolhê-lo ao estaleiro
para reparos, recondicionando o motor para uma nova missão.
A posse e o autoritarismo fecharam impunemente um oceano de
relacionamentos desde a criação do mundo, tornando precários os laços de
ternura e aumentando a incidência de riscos em busca de um grande amor.
A missão é retirar o amor da clandestinidade.