OS INCURÁVEIS
18 de Dezembro de 2006
Os incuráveis são umas verdadeiras lesmas
que levam mil anos para se curarem do apego à mulher que não os quer
mais, acusando-a de os terem traído. Não aceitam ser abandonados e
ficarem à mercê de sua própria sorte. Jogados fora. Quando não usam de
violência para tentar impor sua vontade ao verem arranhados seus padrões
de virilidade. Cada vez mais assassinam na medida que ela descobre que
com outro homem vai ser mais feliz. Os covardes eliminam, deformam e
impõem cárcere privado porque sabem que lugar de passarinho não é na
gaiola, amor a gente encontra nos lugares mais inesperados.
- Por que é que você me escolheu? Que é que você queria de mim?
Que é que vou fazer com tanto amor? Que é que a gente faz com tudo isso?
Olha no que você me tornou.
O potencial negativo que o ser humano mantém
armazenado em sua alma. Com a rudeza dos dias a lhes estragar a
aparência, envergonham os filhos com seu ciúme psicopata. Não admitem
serem trocados depois que fundaram uma família com seu sêmen. Esse abalo
nos valores morais que sustentavam privilégios repercute no sistema
imunológico másculo. O câncer na próstata adquire uma dimensão maior e
ameaça a integridade do homem ao mesmo tempo em que aumenta sua vida
útil.
Não se apercebem de que quando o amor acaba não existe traição.
Por mais quanto tempo permanecer nesse inferno entre quatro paredes
enquanto o mundo desaba sobre as cabeças do casal? Quanto mais irá
aguardar para ser soterrado? Não existe compromisso com a causa do
casamento. Você não pode passar a vida em branco sem se sentir amado,
quando não maltratado. Se precisa de alguém doce e meigo, para que
perder tempo com quem não fala seu idioma?
O amor é o fio condutor da vida, o sentimento de traição é o
próprio espírito de obsessores, frustrados por não terem conseguido
despertar fascínio, magia e encanto. O espírito de ser considerado o
segundo, o primeiro dos últimos. De ficar em segundo plano e derivar
para a segunda classe. De ter que ceder para a mulher e admitir que ela
também pode “costurar para fora”, na contrapartida da insatisfação com a
relação. Ao menos, que o faça bem-feito, de forma que dê a impressão de
que os incuráveis ainda são pole-position. A fotografia fiel de que a
histórica condição subalterna da mulher trocou de vítima e causa
estragos na auto-estima masculina, outrora pujante e confiante.
Os incuráveis se desesperam porque irão passar o Natal
sozinhos, ao serem destituídos progressivamente da chefia da família.