EROTISMO
Série Desconstruindo o Homem
13 de
Agosto de 2007
Quando o erotismo diz tudo,
ao você não poder controlar o que imagina e deseja.
Causa um estranhamento gostoso por fugir aos padrões
costumeiros. É anormal em razão de termos que conter a
manifestação para que a freqüência não nos assuste, pois
nos proporciona um frescor incomensurável. O erotismo
transgride pelo tom berrante e pela erupção do vulcão
que revela o mistério. Não é só sexo, na acepção da
palavra. É um comer pelas beiradas que invade a
intimidade do outro e se apossa sem incomodar, posto que
a mente erótica não é dócil nem bem-comportada.
Repelem-na os que exacerbam
seus mecanismos de defesa para não serem tungados pela
carência - má conselheira. Afora os casais que são
companheiros e se gostam muito, mas cuja convivência
frutífera não garante um sexo ardente; a proximidade em
demasia inibe o desejo. Quando falar sobre sexo, provoca
medo ou hesitação. Mentem, ao sentirem culpa, ou não
dizem quase nada, por vergonha, divididos entre desejos
considerados politicamente incorretos e não ser
satisfeita pelo parceiro.
O erotismo é melhor do que o
orgasmo, que acaba, relaxa e frustra, pois será
impossível reproduzir o momento inesquecível. Terá de
criar outro inigualável, pois senão vira um ato
mecânico, o que gera insegurança e impotência no
hesitar. Além de que convém ambos repousarem depois da
labuta e mergulharem num sono feliz. Mas o erotismo não
estaciona nesse come-e-dorme, desafia a você prosseguir,
a confidenciar segredos guardados à espera de
amadurecê-los, a tocar na sensibilidade que anestesia, a
não temer suas próprias palavras, a reinventar a roda, a
trazer novidades para o sofá, banco do automóvel, canto
na festa, escada em espiral e, quiçá, dentro do mar.
Isso pressupõe clima, olho no olho, conversa tirada da
alma, o coração valente sempre presente, carinho e
doçura irmanados, discurso e lógica no lixo, sem espaço
para pensar que vai se dar mal com todo esse romantismo
do tempo do namoro no portão de casa.
Todavia, os quadrados se
restringem à sua dimensão única e linear, ao teimarem
resolver todas as diferenças do amor na cama.
Precipitados, querem se livrar da agonia da excitação do
tête-à-tête intermitente, pois que, prolongada,
incomoda por não se ver capaz de reafirmá-la no rolar
do tempo, posto que exige confirmar a atração, o
interesse e deixar ela penetrar em seu âmago e rasgar
suas entranhas para revelar que espécie de homem é esse
que deseja tanto se preservar. Uma relíquia que se
extingue na ejaculação precoce ou na masturbação, para
matar na fonte o erotismo.
O erotismo não constitui
somente as preliminares que não se findam. É balançar a
roseira com tudo que estava dormitando dentro de você,
sob o pesadelo de assexuada ou frígida, para disparar um
acentuado nas horas que aflora uma tomada de consciência
de que é capaz de apaixonar todos os sentidos sem
enlouquecer e viver modernamente namorando.