VALE-TUDO
Série Desconstruindo o Homem
14 de Janeiro de 2008
Ponto final. Vivemos uma época de liberdade
sexual e da busca pelo prazer. O prazer exige que seja saciado,
reproduzido, multiplicado, para evitar a existência monótona e estúpida
à sombra da solidão. Há que repetir o prazer exaustivamente, mesmo
porque, o prazer de amanhã nunca será o mesmo de ontem. Para não pairar
no ar uma sensação de repulsa e aquela pessoa do seu lado não restar
incômoda. Há que despender todas as forças para satisfazer sua mente,
senão corre-se o risco de cair em depressão e ficar de mal com a vida.
No entanto, evita-se a aproximação, pois se
entregar é extremamente perigoso, vai que no dia, mês, ano seguinte,
aquela não é a mesma colombina que mexeu com seu pierrô, tornou-se uma
ilustre desconhecida, sem máscara. Seguro morreu de velho, nega-se ao
amor, sabota-se os laços de ternura, romper com esse condicionamento, o
pretensioso desafio. Levanta-se da mesa e deixa o pretendente chupando o
dedo. Com medo de amar.
Como se fora uma borboleta que toca
superficialmente as flores, a mulher rejeita o assédio despejado com
tamanha ansiedade; desconfia de tanto amor. Sente-se desafiada e
humilhada, com declarações feitas em público, na frente de amigos.
Desfere ataques insanos, visando testar até onde vai esse amor, cantado
em verso e prosa. Devido ao medo de amar, ela esvazia o relacionamento,
tornando-o precário e efêmero, porque intimida.
Desdenha a tal ponto que ele vai deixando de
amar e se recolhe na descrença ao amor, no descarte fácil de parceiras.
Até que desiste, se desencanta, essa mulher irá lhe criar problemas e a
atração sumirá do jeito que apareceu. O amor virou uma loja de
conveniências, é mais seguro dissociar seus quereres do ordenamento com
que a sociedade se estruturou modernamente para amar.
Faltam garantias diante da instabilidade de
não saber quem eu sou e quem tu és porque não fomos preparados para um
mundo em que ambos, em nome do amor... vale-tudo! Nunca os homens foram
tão inseguros, devido à perfeita noção da perda de substância de sua
personalidade diante da nova mulher, com sérios reflexos na arte da
conquista e da sedução, outrora poderosa.
A fantasia do amor numa ilha deserta substituído pelo quartinho de hotel
decadente.