FILHO DE
MÃE INCESTUOSA
7 de Abril de 2008
A mãe resolveu casar com o filho quando o pai
não quis assumir a paternidade e o casamento, fugindo. Criou o filho,
sozinha, com ele a lhe fazer companhia, sendo o seu companheiro nos
passeios dominicais. Ao seu lado, juntos na alegria e na tristeza, na
saúde e na dor, a mãe controla a hora que ele chega, por onde esteve, se
dormiu bem e a lista de namoradas. Para examinar no troca-troca o perfil
de cada uma, como se diante de um terminal de computador. Indigna-se com
a rotatividade e o pouco tempo dedicado a conhecer as profundezas do
terreno em que pisa. Troca que nem a lâmpada queimada ou pneu de carro
velho - o que mulher nenhuma admite. Imagine ele sair com outras e
deixar sua namorada, fiel, em casa, a roer as unhas. Mas se é a mãe, o
que ela tem a ver com isso?
É uma afronta o filho ficar com tantas
garotas perante a mãe, sozinha, sem homem, marido, amante, ou seja lá o
que for. Se ele foi produto de uma relação sem nome, acidental,
proporcionada pela noite mais enluarada de que se teve notícia: a que
engravida. A que faz nascer o autêntico varão, aquele que dignifica a
raça e a torna plena como mãe e rainha, a ponto de presenteá-lo com uma
moto nos seus 18 aninhos.
Portanto, a mãe tem direitos sobre seu filho,
herdeiro do que representa uma mulher que se sacrificou por ele, a ponto
de não permitir que sua vida devassa com outras mocinhas o
desencaminhasse, sob os acordes da viola enluarada.
A zeladora do lar prefere ser fiel a seu
filho, garantindo a continuidade de seu amor legítimo através da futura
nora, que deverá seguir o mesmo código de conduta para ser feliz, pondo
para correr as vagabundas, rameiras e oportunistas que tentam se
aproximar de seu querido filho e marido, já que não se pode confiar nos
homens.
O filho da mãe incestuosa não se liberta da
chave de cadeia da mãe, que o aproxima perigosamente da gaiola das
loucas, de uma cópia fiel que a assegurará do caminho que escolheu: os
homens não prestam ou não a levam a sério como esposa, ou simplesmente
não a querem.
Mesmo que o incesto não se efetive, o que
vale é o seu caráter refletido na posse e exclusividade da mãe, que
descarrega no jovem, supondo que ele veio ao mundo com estrutura para
agüentar tamanha tragédia descoberta pelos gregos. O ideal seria exigir
dele que não cabe traição, se traição é o que a mãe só vê no homem,
desde a fisionomia até as entranhas.
Mas é seu filho, não seu homem. Preferível
cedê-lo à nora e mantê-lo em seu poder. Restando ao filho fingir que não
vê, tal como Édipo vazou seus olhos diante da mãe e esposa Jocasta, que
jazia depois do suicídio.
Como sentir desejo por uma mulher tão
castradora? Se ela perdeu o fio da meada quando se entregou a parceiros,
lá atrás, no frescor da atração. Pois não estabeleceu condições,
limites, reciprocidade e sofreu um processo de retardamento. À procura
do orgasmo, só lhe vinha à mente o neném ao abandono no berço e a
justiça de Salomão abrir-lhe a cabeça em dois, para que a profecia de se
amarrar ao filho em imolação não se cumprisse.
Por mais que o filho de mãe incestuosa seja
bem equipado para a ronda das gatinhas, não há tatu que agüente uma mãe
frustrada que elege seu filho como o salvador da pátria.