ESCADARIA PARA O CÉU
02 de Outubro de 2006
Se puser a mente para trabalhar, a vigiar
tudo que os olhos alcançam mas não sentem, eis que quanto mais você sobe
as escadas, parece não ter fim, porque se sucedem interminavelmente
lances de escada, ainda que suavizados por patamares. Pelo fato de
escadarias acompanharem a sinuosidade da vida, tem uma hora que as
escadas descem tão bruscamente conforme subiram.
As escadarias não são tão pronunciadas, mas você sobe e desce
tanto que parece que está apenas subindo; só não se apercebe que está
descendo. Nesse sobe-e-desce, você sempre pensa que está progredindo;
descer significa subir daqui a pouco. Assim, quando você está descendo,
na verdade está vivendo a sensação de que em breve irá subir. Não se
trata aí de subir no sentido de sentir o alívio e o graças-a-Deus por
estar nas alturas. Mas sim subir no intuito de buscar algo no alto, no
céu, no céu onde com minha mãe estarei, lá em cima, até onde nossa mão
possa alcançar.
Buscando um caminho, no momento em que está
subindo, você sente que quem construiu aquelas escadas também estava
empenhado em encontrar alguma resposta, algum significado ou caminho
para o céu. Não simplesmente uma brecha para escapar.
A idéia que você tem quando está subindo é a de que se pudesse,
continuaria a subir, subir, subir e ir mais longe, em direção ao topo do
céu, e ir mais além do que qualquer outro homem, nesse imenso
sobe-e-desce da vida. Por outro lado, subir escadas provoca impulsos de
romper com tudo que se encontrava fechado a sete chaves, abrir sua
mente, seu corpo, sua alma, porque na medida em que sobe você está indo
em direção ao céu, ao cume, onde lá estará o Deus que escolheu, qualquer
que seja, de braços abertos para acolhê-lo. Ou de uma outra existência,
melhor do que a que está levando aqui embaixo. Ou descobrir o que
desperdiçou ao abandonar esta vida.
Como se fosse possível e permitido ao homem construir
escadarias para galgar o Céu, sugado pela espiral do infinito, e tocar
com o indicador o firmamento. A um passo de Deus, que, do outro lado, o
observa na luta interminável para cruzar esse portal e respirar outros
ares.