ANGÚSTIA
27 de Novembro de 2006
Você se ilumina quando descobre que todas
as respostas para suas angústias já estavam dentro de si. Concentramos
muito tempo no passado ou no futuro, fazendo pouco contato com o
presente, e o que é mais grave, de forma inconsciente. E cada ocasião
perdida se acumula, pressionando nosso interior, deixando-nos
insatisfeitos.
Angústia para o cristão deriva do pecado. Para a psicologia,
decorre do conflito do homem consigo mesmo e com a sociedade. Para o
budismo é um fato natural, oriundo de se estar vivo. Afinal, existem
muitos sofrimentos: nascer, envelhecer, adoecer e morrer; separação dos
entes queridos; divórcio; ser obrigado a permanecer em algo que se
detesta; não obter o que se deseja; perder glórias e prazeres.
A origem do sofrimento é a ignorância de que não
se é o centro do mundo, o escolhido para acontecer “certas coisas”.
Ilusão de um “eu pequeno”. O sofrimento provém da necessidade de segurar
todas as coisas do mundo, com apego, quando elas estão em constante
mutação. O chamado estado de impermanência que Buda assim explica:
“Todas as coisas surgem e vão embora”.
À medida que os infortúnios e as frustrações vão ocorrendo, a
angústia vai ganhando corpo. Nos empurrando para a iminência de um
abismo criado pela incerteza do futuro. Um passo mais nos fará cair no
desassossego. Por desconhecermos nossa própria potencialidade. Ao
iniciarmos a duvidar daqueles que nos cercam, precisamos de um espaço
para começarmos a florescer. Querer agradar aos outros é uma tentativa.
Criar e desfrutar de ilusões é outra tentativa no intuito de suportar um
mundo que nos exige partir para a conquista de algo novo. Obrigando-nos
a delimitar um objetivo. Fora daí você não tem salvação, a insatisfação
sobrevirá. Já não somos os mesmos de ontem e não seremos os mesmos
amanhã. Nada é permanente, e estamos em constante mutação. Nossa
necessidade é imediata, não se pode esperar uma outra vida.
O mundo provém do pacto entre você se exercer no seu ser humano
em que nasceu, ou não conseguir. Em constante estado de tensão que faz
aflorar ora o firme, ora o maleável, numa alternância ininterrupta.
Graças a uma lei de mutação que renova continuamente todas as coisas e
torna o mundo tão sublime como no primeiro dia da criação, essa
dualidade edifica tudo o que virá a existir de fato. Tal alternância
noite e dia que implica na necessidade de troca, em vista que um não
existe sem o outro, serve para explicar uma batelada infindável de
fenômenos que cercam nossa existência, já que costumamos ver apenas o
que temos diante dos olhos, acostumamos a nos livrar do último para
colher o próximo.