INÉRCIA
05 de Fevereiro de 2007
São tantos artifícios que engendramos para
burlar a vida que deixamos de prestar reverência ao sagrado. Quando
deveríamos propiciar a preservação, no mais puro íntimo de um território
inviolável, a salvo de sequazes bisbilhoteiros. Para tentar entender,
aceitar e perdoar os ensandecidos que tumultuam o mundo.
É preciso ter a humildade de pedir ajuda para realizar essa
escalada. Suba alguns degraus para romper com tudo que se encontrava
imerso em grande mistério, dê asas à sua imaginação nesse imenso espaço
livre, não tenha medo, não irá cair, desde que não olhe para baixo,
senão vira estátua. Liberte-se de seu corpo e eleve sua alma, seu
espírito, em direção ao Infinito, onde lá estará o Deus que escolheu,
qualquer que seja, de braços abertos para acolhê-lo.
Entrar em contato com o que tem de mais elevado
em nós - a espiritualidade - é fazê-lo parar na desatinada corrida pela
sobrevivência e, aproveitando a disponibilidade do dia livre, levá-lo a
refletir sobre seus atos e os próximos passos a serem dados.
É combater a inércia dos que pensam que não têm
mais idade para buscar novos ideais, que já fizeram de tudo na vida,
nada mais restando. É torpedear o mergulho de sua incredulidade na
acomodação e depressão, fazendo com que se sinta mais vivo. A maioria
das Igrejas quer que o fiel se sinta confortável e construa as suas
paredes doutrinais de modo a protegê-lo de qualquer um que pense ou olhe
diferente.
O busílis da questão está em conseguir fazê-lo de forma
prazerosa, sem levar em consideração a culpa e o pecado. Liberto da
idéia de que é sempre necessário expiar erros ou falhas; os tormentos
passam, facilitando a correção do rumo de sua nau.
Um estímulo para sair da toca e desapertar os parafusos dos
limites da consciência. Arregaçando as mangas é que existe alguma
possibilidade de final feliz para o ser humano. Afastando-se de quem
está aí parado e sai de fininho ao menor toque de reunir e fazer a
chamada para convocar a quem não deu o ar de sua graça nesse meio
ambiente onde falta respeito e consideração.
Na maior parte das vezes, representamos porque simplesmente nos
habituamos a marchar sob o compasso dos ponteiros do relógio. A inércia
desaparece instantaneamente quando situações desesperadoras impedem-nos
de continuar a fingir. Por que não desenvolver uma convicção na
necessidade de mudar e na coragem de estabelecer novos padrões de
comportamento para barrar a progressão do condicionamento negativo em
seus múltiplos disfarces? Desperdiçamos muito tempo a consolidar maus
hábitos sem nos darmos conta do esforço que despenderemos ao
descondicionar o pensar, o sentir e o agir, absolutamente essenciais no
instante em que você resolve dar um basta a esse estado de coisas que te
atormenta.