AMIGO INIMIGO
16 de Abril de 2007
Quem somos nós, quem é dos nossos e quem é
contra nós? Quem são seus inimigos? Quem são os seus amigos? Como é que
um amigo se converte em inimigo?
Por vezes, alguém se aproxima, demonstrando ser um amigo afável
e solidário, com presença constante em sua casa, disponível para
cultivar uma amizade. Você corresponde, mal escondendo um certo
entusiasmo, pois amizade é coisa rara, e inicia a abertura dos canais
pelos quais desfrutará desse convívio e intimidade. Expondo seu jeito de
ser, quem você é e como resolve as situações intrincadas do dia-a-dia. O
perigo começa quando seu amigo passa a admirá-lo e respeitá-lo tanto que
suas qualidades acabarão por incomodá-lo, sobretudo se evidenciarem o
que ele tem de mal resolvido ou, de forma simplória, o que não possui na
vida.
É nesse instante que alho se converte em
bugalho. Perde a noção de limite e acha que a intimidade conquistada lhe
assegura o privilegiado direito de fazer, dizer e pedir o que é vedado a
outros. Age tranqüilo, garantido pela certeza de que o amigo sempre irá
compreender. Não se trata de desconfiar da própria sombra, mas se o
inimigo pode entrar na sua casa na pele de cordeiro, o que fazer? É
nessa hora que baixa um espírito protetor de mãe que repete
cansativamente para desconfiar sempre dos outros.
Por outro lado, se somos atacados é porque temos alguma força
ou predicado que atiça interesses e provoca inveja. Portanto, ser
atacado tem seu lado positivo, demonstra que demarcamos claramente uma
linha entre nós e os outros. Significa que quem ultrapassar essa linha,
evidencia que está em oposição e invadiu para se apropriar de uma forma
de ser que gostaria que fosse a sua. Seduzindo, inventando mil
artimanhas, glorificando a ilusão de ótica e emaranhando tudo para não
se ver sozinho consigo mesmo. Reforçando a tendência pessimista de
valorizar o que não presta e desvalorizar o que presta.
O difícil de verdade é fortalecer-se espiritualmente para não
confundir adulação com reconhecimento de caráter e confiar mais no seu
taco para não ficar de rabo abanando, no aguardo de um elogio ou mimo.
Mas o inimigo não morre sozinho. Há que aprender a se livrar dele.