SABER ESPERAR
28 de
Maio de 2007
Não conseguir o que
deseja de todo coração pode ser um lance de sorte.
Corre-se o risco de perder a guerra, mas não de perder a
lição. A chave para sair fora das amarras que estreitam
o horizonte de vida é franquear a passagem queimando
as barreiras e findando a disputa, admitindo falhas em
ser cerebral, o que não implica em falência do cérebro.
Às vezes, não
sabemos quem somos. Ora inabaláveis, uma cor que não
desbota, ora fáceis de manejar, deixando aturdidos os
que pensavam sermos imutáveis. Ora não tememos a
obscuridade por ter a companhia de nossas visões, ora
nos iluminamos no vazio com devaneios que irão se
materializar.
O inimigo sempre
morou dentro de nós teleguiado por farsantes que só têm
a garganta para nos manietar, face à miserável
existência a que se restringiram. Nem eles mesmos se
agüentam. Só rompemos as costuras de nossas tradições,
quando fechamos as portas para esses inescrupulosos que
transformam nossas vidas em campos de teste ou
laboratórios de experimentação.
Que tal conservar-se
encapsulado durante seu interminável tempo e guiar-se
espreitando a 25ª hora em que a alma dá sinais de
maturação quando tremelica de satisfeita? Quando vence a
detenção em sofrimentos que o mantinham atado à vida
passada, recupera o vigor infantil e volta a conjugar
com a justiça imprevisível do mundo terreno em que as
sentenças nem sempre esclarecem os desígnios da
Providência.
Se você vier à tona
antes do seu tempo de maturação, pode ser destruído pela
impulsividade de algum guerreiro invejoso de seu porte e
resplendor. A sua necessidade de aparecer o reduzirá a
pó por querer forçar sua hora e vez de materializar tudo
que ambiciona atingir. A alma tende a confirmar a Lei de
Murphy e se encaminhar, em seu aperfeiçoamento, na
direção oposta à determinada pela lógica e o seu fiel
escudeiro, o nexo, perfilados em regime de inclemente
vigilância.
Ninguém te vê,
reconhece, te dá importância, você está morto,
enterrado. No entanto, a qualquer momento, você pode se
redescobrir. O Oriente nos ensina a saber esperar. A
saber enxergar os sinais que a vida lhe dá, a saber
ouvir o que as badaladas dos sinos anunciam. A apurar
sua intuição, sem permitir que a intelectualização no
curso de uma vida civilizada obstrua ou sabote tudo que
valeu a pena aprender. A observar bem o terreno em que
pisa. Em silêncio, você constata, com surpresa, que o
ser humano mente de forma contumaz. Para si próprio. Mas
não consegue disfarçar quando a boca subitamente treme,
o olho pisca descompassado, o nariz funga sem razão, a
orelha coça e pica sem que haja mosquito por perto, bem
como o paladar clama pelo doce que reverta o amargo.
Nascemos da mesma
árvore, colhemos o mesmo fruto, a seiva que circula nos
caules - nosso esteio - e vasos lenhosos, é o sangue de
todos nós, a energia materializada, o alento de quem não
teme unir os laços em matrimônio, pois que cão e gato,
raposa e galinhas, lobos e cordeiros, judeus e
palestinos, tão-somente reforçam e ampliam o conceito de
família.
Uma história rica a
de nossos ancestrais, em que não se distingue o real do
mítico, a fábula da epopéia. A espiritualidade está
presente para nos orientar e observar a atitude
responsável por nossas ações, compartilhando o seu
conhecimento. Uma maneira de alcançar a imortalidade,
nos incentivando a ir a um lugar onde nunca estivemos
antes.