MEDO DE MORRER
20 de
Agosto de 2007
É penoso se desprender da
memória, dos conhecimentos adquiridos, do intelecto
que traduz as impressões recebidas dos sentidos, e
suas identificações - o universo cognitivo. Essa é a
sua parte que resiste a abandonar a matéria. A
sensação é a de condenar a memória a se consumir nas
chamas do inferno, como se fora um ato de punição. O
medo de morrer o leva a agarrar desesperadamente
qualquer coisa que impeça os demônios de tragá-lo
para o abismo. Mas se estiver em paz consigo mesmo,
os demônios serão, na verdade, os anjos que o
livrarão da Terra, libertando sua alma.
- Somos todos carentes de
fraternidade e solidariedade porque já nascemos
irremediavelmente sós.
- Teremos de crescer e
nos desenvolver para, ao menos, quebrar o círculo
vicioso imposto pelo consenso que regula o convívio
em sociedade.
- Não satisfaz, queremos
mais, seja para construir ou, então, desmontar
hipocrisias que se cristalizaram.
- É próprio de cada
indivíduo ter um sonho sobre como alcançar o que
deseja. O que torna nosso caminho ímpar.
Restando-nos lutar para comprovar que é viável.
Cada vez mais o espaço,
seja sideral ou o vazio, conforme a crença ou
descrença de cada um, está mais aberto para o que
rola além do que nossos olhos enxergam. Se é ou não
vista cansada, o fato é que tardamos, tardamos muito
para que a ficha caia. Esse ônibus que não chega
nunca faz a gente cair no sono nem bem entramos
nele, não vendo a vida passar debaixo de nossos
olhos, de tanto que dormimos no ponto. Faz a gente
perder oportunidades. Maldizê-las por não terem
aparecido até agora. A reclamar do destino, ingrato
e cruel, quando basta um beijo, sincero e cálido,
para nos despertar como uma Bela Adormecida, e
travar a verdadeira batalha, caminhando por cima de
bambuzais, contra supostos inimigos cuja única
função é testar se nós temos certeza de onde
queremos ir e o que fazer quando lá chegar.
O agnóstico Darwin
descobriu que não são os mais fortes que sobrevivem,
e sim os que têm maior capacidade de adaptação. Ao
não se cristalizar, ser constantemente mutante, em
determinados momentos até indefinido. Sem medo de
cometer erros. Aceitando fraquezas e inabilidades
sem se recriminar. Correr atrás e pagar para ver,
não se importando com julgamentos que nos
sugestionam a fazer concessões para que seja feliz
do jeito que eles inventam de ser. Indispondo-se com
a rotina para ouvir sua voz interior, a fim de
mergulhar no novo e naquilo que o fará se sentir
vivo e feliz.
Com certeza as portas se
abrem, apenas não rangem. Não se permita cair no
ridículo de ser conduzido pelas mãos de outrem para
a felicidade, como se fosse um deficiente mental.
Se, antes de morrer aos 82 anos, Goya escreveu num
esboço de quadro: “Ainda aprendo”