BREVIDADE DA VIDA
3 de
Setembro de 2007
Não se pode reclamar que a
vida é curta, salvo quando desperdiçamos uma grande
parte dela e despertamos tarde. Se bem empregada, nossa
energia é suficientemente longa, a tal ponto que temos
de agradecer a Deus tamanha generosidade para levar a
cabo importantes tarefas. Ao contrário, se dilapidada na
inércia e na indiferença, se não se procura dar maior
conseqüência à nossa existência, não realizando aquilo
que deveríamos realizar, ela se esvai sem mais nem
menos.
Pequenos trechos e fragmentos
são o que podemos contar da vida que levamos, todo o
restante é somente o tempo que decorre. Se contar no
relógio, você tem menos idade do que vivenciou. Quanto
desperdício sem ter a menor noção do que está perdendo!
Quantas vezes não se flagrou sem rumo, esgotado e
sonolento? Invejando o destino alheio e desprezando o
seu. Fazendo tempestade em copo d’água, levantando
suspeitas descabidas, no rol de paixões despropositadas
e papos inúteis, a não compreender que morremos cedo por
agirmos como irracionais, reproduzindo a mesma cantilena
sem cessar, numa inútil agitação que nos conduz à
frustração mental.
De que adianta dizer a um
homem ocupado que a vida é breve? Se ele é ocupado, tudo
é agendado, não tem tempo para se aprofundar em nada,
seu espírito se distrai e passa ao largo de sinais
enviados para nos conectarmos. Ao ser orientado para
abandonar essa arapuca, nem te ligo. Como renunciar à
tentação de acumular lucros e tirar proveito da
situação? Não é fácil aprender a viver e se libertar da
ansiedade que o futuro provoca e se concentrar no dia de
hoje sem sentir tédio.
Ninguém te devolverá o tempo
perdido. Pode haver calmarias nos oceanos, mas as águas
se apressam no seu curso que é silencioso, sem avisá-lo
dos contratempos e de correntezas que o arrastarão para
bem longe do seu destino. É de espantar quando se
observa almas em conflito pedindo a Deus mais uma
chance, uma dilatação de tempo para pôr sua casa em
ordem, não se apercebendo de que a alternância do dia e
da noite junta na mesma cama o repouso e o despertar. O
adiamento foi mortal, ficou na expectativa marcando
passo, por que demorou tanto, se o melhor dia é o
primeiro?
O maior impedimento é não
tomar a iniciativa, a velocidade do tempo joga-o ao chão
para provar que não é mais bípede. Também não basta se
esforçar para dar cabo de uma missão ou demonstrar sua
vocação e não aproveitar para mudar sua essência, como
se pudesse iludir o destino. Aquele que finge ignorar
não ignora que a natureza é um campo livre para entrar
em comunhão com toda a eternidade. Por que não ignoramos
a estreiteza do tempo e nos entregamos com o nosso
espírito ao que é ilimitado e iluminado para acolher
seres falíveis que não sabem o que fazer com o tempo? Se
o tempo é irrelevante e a morte irreversível, todos te
ensinarão, nunca a conversa será perigosa ou a amizade
danosa, eles te elevarão ao ponto mais alto de onde
ninguém corre o risco de cair, esta é a maneira de
prolongar a vida. Tudo aquilo que a ambição edificou, as
honrarias e os rapapés, logo hão de desaparecer, pois
não existe nada que a passagem do tempo não transforme
em ruínas ou em caos. Exceto os conhecimentos que a
sabedoria construiu, as próximas gerações irão precisar
para aumentar a base da evolução.
Se algo ficou perdido no passado, a memória reconstitui
a origem das espécies. Olho vivo nas ervas daninhas que
atrapalham um futuro que pode anteceder. O presente é
tão breve quanto o suspiro, o arfar de alívio, o grito
de prazer. A união de todos os tempos faz com que sua
vida seja longa.