As passeatas de junho de 2013 que antecederam a Copa do Mundo de 2014, que se realizaria no Brasil, bem como as Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016 levaram o povo às ruas, indignado com o dinheiro investido na infraestrutura necessária para os dois eventos, no lugar da educação e saúde, além do aumento de 20 centavos na passagem de ônibus à época. Povo? Só se viu nas manifestações, especialmente no Rio de Janeiro e em Brasília, classe média-média e black bloc, vândalos que iam destruindo minuciosamente vitrines e postes de iluminação e de trânsito, pondo fogo em tudo que vislumbravam como incinerável. A mesma classe média que sairia de seu conforto burguês e voltaria a ocupar as capitais brasileiras para tirar o PT do poder, alegando incompetência administrativa de Dilma para destitui-la da presidência, hipótese não prevista no impeachment e sinal evidente de golpe, facilitado e muito pela paralisação do governo provocado pela trinca maldita do Eduardo Cunha, do derrotado Aécio e do herdeiro Temer em plena Olimpíada. A isso se seguiu a prisão de Lula por prazo superior às eleições presidenciais de 2018, sentenciada pelo então juiz Moro, hoje em vias de ver cassado seu mandato de senador e completamente desmoralizado por suas ações nefastas em nome da parcialidade venal. Ambiente propício para consagrar Bolsonaro como futuro ditador em 2022, enquanto, eleito em 2018, preparava o país para o golpe, agregando as Forças Armadas, comprando o Congresso com o orçamento secreto e cercando o Supremo Tribunal Federal para calar a boca do Poder Judiciário. Com o discurso de combate à corrupção, uma das principais bandeiras das manifestações de 2013, Bolsonaro se valeu da falta de memória do brasileiro e de não saber fazer a leitura política, como bem faz no futebol, para perceber em 2013 a incubadora do ovo da serpente. Isso seria exigir sobremaneira de seu poder de alcance, ainda mais se levarmos em conta a facilidade com que se deixa enganar. Todo esse conjunto de fatos robustos desembocou no despertar de uma massa classificada como a extrema-direita, apesar de desconhecer do que se trata nazismo ou fascismo, na sua maioria, e que se identificou com a pauta de costumes de Bolsonaro, que veio a ensejar um impulso enorme nos assassinatos e em feminicídios ao se estimular o uso de armamentos, além de, tal como Nero em Roma, atear fogo na Floresta Amazônica e em outras coirmãs, dizimar a população brasileira ao não se importar com o avanço da Covid e conspirar para abalar os alicerces da democracia. Incendiar o país em 2013 para quase resultar numa ditadura em 2023, pautada por inúmeras tentativas de golpe como o impeachment de Dilma, a prisão de Lula, a eleição de Bolsonaro e metade da população votante aliar-se a um facínora que se valia do lema vagabundo “Deus, Pátria e Família”, diz muito da mentalidade brasileira, suscetível a cair em golpes e a ser enganada como autênticos trouxas. Sem a menor capacidade de argumentar para defender suas frouxas convicções e, nem ao menos, sentir vergonha de si. Pode-se até dizer que resolveram mostrar sua cara, facilitado pelas redes sociais, já que, havendo dúvida, apagam as publicações e lavam as mãos, ficando o dito pelo não dito: “Eu não sou mais quem escreveu aquilo”. Capaz até de negarem que um dia já foram gado e ruminaram tudo que lhes era dito, como se fosse um manjar dos deuses. Afinal, há gosto para tudo.
Deixe um comentário