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CRUEL

– Sim senhora.
– Senhora está lá no céu.
A coroa ficou puta só porque tava de butuca em cima do jovem rapaz e o bicho nem notou. Não está a fim de fazer estágio para se graduar como homem, nem de experimentações que o façam dar de cara com Édipo.
– Já tiveram seu tempo!
Imagine se isso saiu da boca de um carcará, que não morre de fome, ele vai lá e come. São as eternas rivais, com veneno a escorrer do canto da boca. Já penduraram as chuteiras e não suportam ver louras plastificadas bem apanhadas na idade, de saia curta a exibir coxas malhadas, resistindo à inclemência do tempo e às cruezas do mercado, partindo para cima e se dando bem.
A vontade que dá é pedir a Papai do Céu para nascer de novo. Algumas das venenosas até já foram bonitas, mas não chegam a ser um molambo qualquer. Tomam cuidado para não se apresentarem de qualquer jeito, procuram se vestir bem para dar a impressão de seguras de si, mas perderam a embocadura e mandaram a sensualidade encostar num outro espírito.
Porém, restou o ego, o fiel inimigo. Bate uma vaidade que dispara o cronômetro do ridículo e ninguém segura a voz de cana rachada que denuncia o enfadonho. Como pôde ficar tão desinteressante? Vá se meter a besta com ela, cheio de nove hora, que lá vem chapoletada.
Não deu outra, ficaram chatésimas, com raiva da vida, um porre. O sexismo desenfreado abalou as convicções da família, e a mulher no seu seio, como não se sentir excluída? Além do mais, é desumano lutar para manter a mesma performance no transcurso da vida. Depois de certa idade, cansa:
– Eu quero ter direito a ser outra coisa que não sei se vou alcançar; nem ao menos eu sei o que é. Eu não consigo pular mais a cerca, nem quero ser alvo de chacota, principalmente de jovem debochado. Nunca vi fazerem tanta exigência.
– Amélia não tinha a menor vaidade, Amélia é que era mulher de verdade – chegou a turma do funil onde todo mundo bebe e ninguém dorme no ponto.

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Antonio Carlos Gaio
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