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DONA MARIA E A AURORA: Dona Maria conhece Aurora

Dona Maria já era uma jovem senhora. Sabe quando a pessoa entra na idade dos “enta”? Ou ela sai dessa fase aos 100, ou ela sai sem, sem vida, então já começa que essa é uma etapa que só quem já está na madura idade sabe de verdade o que é já não ser mais tão jovem como antigamente. E era assim com Dona Maria, mesmo quando todos diziam que ela não parecia a idade que tinha. Ela tinha, sabia e sentia.

Dona Maria não reclamava. E até gostava de tudo que a idade lhe deu. Desse meio onde ela estava. Onde já tinha vivido tanto e um tanto sabia que ainda teria pra viver. Mas ela não é você, que tem a metade da idade dela e que sente as alegrias e impulsividades da vida dessa gente que ainda não tanto doeu ou se arrependeu. Essa gente a quem ainda não aconteceu tanta coisa que só quem está na idade dela já sabe. Esse cansaço que só cabe em quem ( , ) mesmo ainda não tão velha, mas já assistindo a vida na janela, já viveu.

Dona Maria era dessas. Era o que dizem “uma peça”, parecia feliz. E era. Carregava ainda com ela um pedaço do sol particular de outrora. Foi quando ela conheceu a Aurora. No dia em que foi obrigada a botar o pé na vida lá fora, foi que essa história, que agora ainda rola, começou a ser escrita.

A vida sempre pode ser bonita, você sabe? Aurora sabe e ainda diz mais. Ela não acredita, ela tem certeza de que “sempre foi bonita” e emana uma energia sagaz. Ela é nova e dourada, assim meio avermelhada, com a pele com viço e vida de gente nova, que vai à praia. Aurora não foge da raia. Ela se joga. E Dona Maria só a viu por um dia, na verdade por uma noite, em que esteve em sua companhia, e isso tanto a modificou.

Ao olhar nos olhos castanhos dela, ao se perceber tão amarela, e lembrar que antigamente ela assim não era, as cores da Aurora lhe iluminaram. “Eu era assim na minha aurora. Na minha tenra juventude. Eu também ficava lindamente morena, também sou assim pequena, e também sempre fui peituda e cacheada.”, Dona Maria pensava.

Dona Maria ainda era bem apessoada, mas vivia sempre tão cansada, que insistia em se dizer feia. Se embolou tanto naquela teia que teceu com a areia dos desenganos, que esqueceu como é insano ir perdendo, com o tempo, a sua cor. Ir esquecendo como é viver o início de um grande amor.

Dona Maria era casada. Já tinha no amor (e no desamor de eras passadas) muita estrada. O fogo que nela queimava parecia estar se apagando. Dona Maria não estava brincando. Aurora estava.

Então Dona Maria a observava. E quanto mais a olhava, mais ela se lembrava de como ela era antes, naquela sua fase brincante.

Maria era pura alegria e energia. Era solar e sua chama ardia, como bem disse um amigo outro dia, (tirar vírgula) sobre a Aurora que ela quase ontem conheceu. Hoje, a lembrança da beleza da Aurora acordou a Maria. E se ela, a mais velha, antes anoitecia, hoje, com o reflexo da luz que a Aurora irradia, a Maria se viu no espelho do passado em que sorria. A antiga e nova Maria, com tanta luz e poesia, pode-se dizer que sim, hoje acordou e alvoreceu.

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Antonio Carlos Gaio
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