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A NATUREZA DO FALO

Os homens vivem imersos numa ansiedade brutal: precisam corresponder a tudo que se espera deles. A expectativa de ser bem-sucedido no trabalho e no relacionamento com as mulheres os limita. A competição os torna arrogantes e insensíveis. A derrota os humaniza. Como relaxar, se lhes é exigido sempre controle emocional, convicções firmes e independência? Não pode ser menos, tem que ser mais, senão é um fraco. Eles apenas sorriem, com ar superior, quando as mulheres dizem que tudo é mais fácil para eles. Por séculos e séculos, elas os incentivaram a ter uma postura incisiva, traço esse que os faz serem mais respeitados e a obterem o que desejam. O que derivou para brigar de forma agressiva por seu espaço e nunca demonstrar falta de confiança, costurando uma couraça em torno de sua personalidade. Inicialmente para sobreviver, depois para as coisas ficarem sob seu controle. Homem que é homem não vive pedindo desculpas e se diminuindo perante os outros, senão é mulherzinha. O mundo passou a acreditar neste discurso e na imagem vendida. Quando elas hesitam, eles aproveitam para posar de professores.
A forma das mulheres de encarar a vida e de se relacionar com as pessoas não encontra paralelo entre os homens: elas não se cansam de exprimir o que sentem. Se desesperam quando eles falam por meio de resmungos ou abusam do silêncio – aos seus olhos, são criaturas fechadas.
Pela natureza de seu falo, os homens foram adestrados para a conquista. As mulheres, a esperar que eles se aproximem e façam a corte. Quantos casamentos arranjados não foram celebrados até que as mulheres abandonassem a lei do menor esforço? Os homens passaram a ter de contar com a sorte e gastar muita conversa para não levar um fora. Regidos pelo dogma de que homem de verdade não desiste nunca, não importa quantos foras leve. A lidar com a rejeição, terreno no qual vê o seu poder abalado, ao constatar que as mulheres podem tirar vantagem de sua fraqueza. Sofrem baixas em seu campo de atuação à medida que a mulher avança e conquista posições, desautorizando as feministas que pregavam a extinção pura e simples do homem. De renitentes infiéis, recuaram para uma atitude defensiva em virtude da masculinidade ser confundida com machismo.
O resultado é que, atualmente, o homem goza de péssima reputação. O que não diminui nem um pouco o condicionamento de pagarem prostitutas para satisfazer o impulso meramente físico, já que, ainda hoje, é complicado se abrir com suas mulheres ou namoradas sobre fantasias sexuais. Partem do princípio de que elas simplesmente não entenderiam e ficariam chocadas com o que circula pelo seu imaginário. Como explicar por onde se intromete o desejo e as reais intenções do olho comprido? Se seu coração arfa de ansiedade quando uma voz rouquenha despeja sensualidade. Se mal se segura quando um olhar carente o vasculha. Se o formato das costas e a maciez da pele lhe causam palpitações. Para que tanta abundância nos diversos tamanhos e formatos dos seios? Deus se superou quando criou as mulheres para compensar o homem com um pé nas cavernas.
Mas ela interpreta seu mergulho nas entranhas do universo feminino como apenas uma fuga para não estreitar os laços que os fizeram se aproximar. Deriva para sua veia poética ao invés de embarcar no curso do rio que procura a foz. Somente à boca pequena, quase em segredo, é que os homens podem dividir sua vulnerabilidade com outros iguais, desqualificando as mulheres como interlocutoras confiáveis por misturarem informações privadas com posse e ciúme.

Antonio Carlos Gaio:
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