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DERRETENDO A FRIEZA DA INDIFERENÇA

Anos depois, o que nos salta aos olhos ao vê-lo no grupo em que viveu sua infância e adolescência é que ele perdeu a alegria de viver, a esperança, como se estivesse em um deserto sem conseguir encontrar uma saída. Pior, mesmo que existisse, sem querer ver a saída. Parece ter-se entregado. As palavras morreram na garganta e não mais fluem. O gestual não consegue esconder a procura por um amparo, mas não vai a lugar nenhum. Tem que tomar uma atitude, porém permanece estático.
Sobreveio uma descrença e um desânimo por tudo aquilo que não conseguiu fazer. Uma apatia ao ver desmoronar o ímpeto necessário para encarar os desafios que se apresentam na vida. Desprezando o coração, justamente o único moto-contínuo que faz surgir e ressurgir a chama criativa, emanando o calor suficiente para derreter a frieza da indiferença.
Configurando uma barreira invisível que nos separa das pessoas que mais amamos. Quem nunca teve um parente ou até mesmo um pai, uma mãe que não conseguia dar um abraço caloroso ou inclusive beijar, porque algo impossibilitava essa aproximação? Tudo por medo de tomar a atitude de romper com essa barreira e acordar abraçado a uma estátua num mundo insensível. Obstáculo que nos impede de estarmos mais próximos das pessoas, principalmente daquelas que amamos e sabemos que nos amam, mesmo se não expressam com gestos e palavras carinhosas.
A frieza da indiferença acaba por transformá-lo num ser paralisado, sem saber o que fazer. Dir-se-ia num estado de choque, onde é necessária muita humildade para buscar amparo de modo a possibilitar resgatá-lo do fundo do poço. Onde é necessário muito amor para desatar sua cumplicidade com o vazio e ele encontrar luz. Pois o nada parece claro e evidente para essa pessoa, sendo preciso dar a ela o tempo de se adaptar a uma nova realidade e se harmonizar com esse novo modo de vida, essa nova maneira de ser. 
Se você efetivamente ama esse ser se consumindo em indiferença, não espere receber retorno imediato, não fique decepcionado em suas incursões, tente novamente, são inúmeras as oportunidades, olhe em seus olhos. Isso serve tanto para o amor quanto para a espiritualidade.
Antonio Carlos Gaio:
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