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ESCADARIA PARA O CÉU

Se puser a mente para trabalhar, a vigiar tudo que os olhos alcançam mas não sentem, eis que quanto mais você sobe as escadas, parece não ter fim, porque se sucedem interminavelmente lances de escada, ainda que suavizados por patamares. Pelo fato de escadarias acompanharem a sinuosidade da vida, tem uma hora que as escadas descem tão bruscamente conforme subiram.
As escadarias não são tão pronunciadas, mas você sobe e desce tanto que parece que está apenas subindo; só não se apercebe que está descendo. Nesse sobe-e-desce, você sempre pensa que está progredindo; descer significa subir daqui a pouco. Assim, quando você está descendo, na verdade está vivendo a sensação de que em breve irá subir. Não se trata aí de subir no sentido de sentir o alívio e o graças-a-Deus por estar nas alturas. Mas sim subir no intuito de buscar algo no alto, no céu, no céu onde com minha mãe estarei, lá em cima, até onde nossa mão possa alcançar.
Buscando um caminho, no momento em que está subindo, você sente que quem construiu aquelas escadas também estava empenhado em encontrar alguma resposta, algum significado ou caminho para o céu. Não simplesmente uma brecha para escapar.
A idéia que você tem quando está subindo é a de que se pudesse, continuaria a subir, subir, subir e ir mais longe, em direção ao topo do céu, e ir mais além do que qualquer outro homem, nesse imenso sobe-e-desce da vida. Por outro lado, subir escadas provoca impulsos de romper com tudo que se encontrava fechado a sete chaves, abrir sua mente, seu corpo, sua alma, porque na medida em que sobe você está indo em direção ao céu, ao cume, onde lá estará o Deus que escolheu, qualquer que seja, de braços abertos para acolhê-lo. Ou de uma outra existência, melhor do que a que está levando aqui embaixo. Ou descobrir o que desperdiçou ao abandonar esta vida.
Como se fosse possível e permitido ao homem construir escadarias para galgar o Céu, sugado pela espiral do infinito, e tocar com o indicador o firmamento. A um passo de Deus, que, do outro lado, o observa na luta interminável para cruzar esse portal e respirar outros ares.

Antonio Carlos Gaio:
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