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ESPADA DE DÂMOCLES

Dâmocles era um cortesão deveras bajulador na corte de Dionísio de Siracusa, na Sicília, no século IV a.C.:
– Somente são afortunados os homens com grande poder e autoridade!
Dionísio ofereceu-se para trocar de lugar por um dia para que ele também pudesse sentir o gostinho desse presente caído dos Céus. Dâmocles adorou ser servido e tratado como um rei até que, à noite, em meio a um banquete, olhou para cima e percebeu uma espada afiada, suspensa por um único fio de rabo de cavalo, justamente por sobre sua cabeça. Imediatamente perdeu o interesse pela excelente comida e abdicou de seu posto, querendo distância de ser tão afortunado.
O mundo cresceu e as relações se tornaram mais complexas. Nunca a política pareceu tão inútil. O homem, desnorteado, tenta fugir do cheiro do ralo sob a presunção de que não é uma ciência moral. Mas é necessário reunir os homens para promover a discussão do que é preciso fazer para manter a civilização a salvo de si mesma. Extinguindo o legado de Caim tanto quanto a espada de Dâmocles sobre nossos pescoços.
A espada de Dâmocles representa a insegurança dos que detêm poder, face à enorme possibilidade de lhes serem tomados de repente o trono e a coroa. Ou estarem sujeitos a qualquer danação imprevista que destrua seu poder, por mínimo que seja.      
Ninguém entra em nosso castelo por acaso. Todos querem interagir para alcançar algum propósito. Se isso implica neles obterem algo e nos levarem a avançar, que se levante a ponte levadiça!
Contudo, pode acontecer a única coisa que você mais receava e que não poderia ter acontecido. Por ainda pretender abarcar tudo o que estaria por vir, imagina que poderia ter sido de outra forma. Mas não, foi exatamente como deveria ter acontecido para ver se abrimos mão do poder, por ele nada mais representar, e para que possamos tocar o barco sem nos mantermos apegados a um reino falso cercado de fariseus.
Tudo começa na hora em que você se despe da autoridade com que o revestiram. Quando se livra de condicionamentos e não exige acomodar-se ao que de novo vier.
Se os muros vieram abaixo e o rei perdeu a coroa, foi para enriquecer com a experiência e dar curso à evolução.

Antonio Carlos Gaio:
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