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EU NÃO DISSE TUDO QUE GOSTARIA DE TER DITO

Estava eu indo para um casamento no bairro da Tijuca no Santuário da Medalha Milagrosa quando, no caminho, o taxista fez questão de lembrar, sem que nada lhe fosse perguntado, onde a vereadora Marielle morreu. Eu não disse que ela fora assassinada. “Dizem que ela teria desafiado os traficantes, prometido acabar com a raça deles”, insinuou o taxista, embora garantisse nunca ter ouvido tamanha bravata. Eu não disse que quem tirou a vida de Marielle não foi traficante e sim miliciano, oriundo do condomínio de Bolsonaro. Com o taxista contando ter uma filha integrando as fileiras da Polícia Militar, interessado em blitz policial e em dissecar os pontos mais perigosos da Tijuca, ponderei que era melhor trocar de assunto, pois ia de encontro à felicidade, a um casamento. E ele não disse que se fazia de besta para não distinguir a diferença entre traficante, maior parte da polícia e milícia, irmanados no crime e através da chantagem. Feliz com o status alcançado de ser assim com as forças de segurança do país, como eleitor do Bolsonaro, indagou-me se ia amiúde a Portugal. Eu não disse que não lhe havia dado confiança para tamanha intimidade, ainda mais marginal infiltrado de taxista. A mesma sensação de blefe encontrada na musa do impeachment, Janaína Paschoal, eleita deputada estadual por São Paulo em aliança com Bolsonaro, ao confessar que as pedaladas fiscais foram uma farsa, usadas como base para justificar o afastamento da presidenta. É preciso ser muito otário para acreditar que Dilma caiu por um problema contábil, se o esclerosado do Temer negou, por três vezes, na entrevista ao Roda Viva, participação no golpe. Se os ratos abandonam o navio em ritmo crescente, não querendo sujar seu nome na política ou na biografia, alguns advogando o centrismo para não sair mal na foto. O reflexo da classe política e da mídia golpista na sociedade, a partir de 2015, resultou na bandidagem chegar ao poder, sob a promessa de acabar com a corrupção e com a velha política. Especialmente no Rio de Janeiro com o governador Auschwitzel atirando, do alto de helicópteros, na cabecinha de crianças confundidas com marginais.

Antonio Carlos Gaio:
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