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NÃO-BINÁRIO

“Passei a ser quem eu queria e não aquilo que esperavam de mim.”
O não-binário não se identifica como sendo do sexo feminino, nem do masculino, ou muito menos com ambos, como bissexual. Dificultando finalizar o cadastro e ter que optar entre os gêneros masculino e feminino. O que o não-binário se recusa a fazer.
Não-binário, o sexo não especificado.
Fomos educados a entender que devemos ser homens ou mulheres por conta dos fatores reprodutivos. A exemplo dos sistemas binários, ou seja, que comportam apenas dois aspectos. A título de comparação, na ciência da computação, costuma-se empregar somente 0 ou 1 à medida que se programa em baixo nível, assumindo um dentre dois valores possíveis.
Quando se debate essa questão de gênero, o que primeiro a pessoa se lembra é como consta em seus documentos a opção identificada conforme o órgão sexual. O que importa é o registro oficial. O carimbo da cega burocracia. Atestando a veracidade do sexo. Mas sem entrar no mérito da sexualidade. Se lhe condiz ou não. Se casa com sua forma de ser.
Se tudo que é relacionado ao gênero masculino o remete a algo opressivo, se nasceu com o sexo masculino. O não-binário se sente pressionado a partir de que começa a ganhar consciência, ao não se identificar com a sexualidade masculina. De igual modo, se pertence ao sexo feminino, ao não se encaixar no feminismo ou no papel de esposa e mãe de filhos ou qualquer outra vertente feminina. Mesmo que ambos os sexos se manifestem fora dos padrões que não correspondam às expectativas da maioria da população, o não-binário não se enquadra.
Por isso, o não-binário se torna assexuado ou escolhe uma aparência que desconstrói o sexo masculino ou feminino, dando margem a interpretações que o vinculam a gay ou lésbica.
Uma gama considerável de comportamentos diferentes na sociedade que vêm se precipitando e regurgitando inadequação ao status quo, e a não aceitar que você tem que ser uma coisa ou outra, um gênero ou outro.
O Direito natural não pode mais permitir que a dignidade da pessoa humana do agênero (pessoa sem gênero) seja violada sempre que o mesmo ostentar documentos que não condigam com sua realidade física e psíquica. O não-binário precisa ter seus direitos reconhecidos, sem qualquer limitação, em resposta aos princípios da igualdade e dignidade do ser humano.
Como pleitear a alteração no gênero e a mudança no nome com a falta de especificidade do não-binário? Com um traço distintivo que assume um dentre dois valores possíveis, representados comumente pelos sinais mais ou menos, indicando, respectivamente, presença ou ausência?
Imaginemos o filho (a) de um militar, policial fardado, seja de qual for a corporação ou qualquer integrante da segurança pública e privada, cujos métodos costumam ser repressivos e autoritários. Batendo de frente com o pai desde sua infância, em razão da rigidez das regras impostas em casa não ensejarem espaço para refletir sobre seu gênero e preferências sexuais. De quem acaba se distanciando ao encontrar tamanha resistência. Até para involuntariamente não lhe causar vergonha, quando ele dizia que seu filho não-binário não iria sair de casa naqueles trajes e daquela forma.
O não-binário almeja ser incluído na sociedade, e não mais viver à sua margem, abrindo caminho para que outros dissidentes se criem e fomentem um todo avesso a discriminações e preconceitos, assimilando mais e mais diversidades que componham uma sociedade verdadeiramente heterogênea. Seria a cara do povo de Deus.

Antonio Carlos Gaio:
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