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PORTÕES DO CÉU

Não tenho o dom da fé.
Assim os ateus costumam se justificar, diante da imponência das tradições, a fé das multidões e a importância da religião para bilhões de pessoas, constatada por ocasião do funeral do Papa Francisco e no seu último passeio no papamóvel pelas ruas da Eterna Roma, vivo e morto, antes de se dirigir rumo ao Plano Espiritual.
Infelizmente eu nunca tive o dom da fé, mal se explica o ateu, culpando os tempos áureos da Igreja Católica Apostólica Romana em que mandava e desmandava, aliada aos piores reis absolutistas, quando assumiu os processos da Inquisição e a pompa e circunstância da corte papal.
Quando se é jovem, costuma-se achar que vai dar conta de tudo e que a estrada que se avizinha à sua frente estará sempre ensolarada. Os anos passam e algumas coisas dão certo, outras não. É quando o ateu confessa ter sido ingênuo, senão bobo, a despeito de poder ser muito inteligente, extremamente culto e de se orgulhar de ser ateu.
Entretanto, basta surgir uma doença para despertar o hipocondríaco que costuma habitar o ateu. Aliás, mal que abraça a tantos que têm o dom de compartilhar angústias e fraquezas com desconhecidos, que não se cansam de dizer: “O que tiver que ser, será, é a vontade de Deus”.
Sim, a fé faz falta. Um Papa que nunca deixou de encarnar o padre da paróquia. Com uma delicadeza quase divina e com coragem para expressar os verdadeiros sentimentos que tantos receiam expor, em atitude franciscana. A ponto do ateu mostrar-se arrependido e se indagar: “Será que os portões do Céu estarão abertos para mim?”
Os portões do Céu? Talvez o mantenham esperando para saldar a dívida de algumas bobagens. Mas será que o ateu estará preparado para fazer jus a esse fim? Se ainda não tem o dom da fé. Contudo, conquistou o dom da esperança e deixou ir embora o ranço pessimista. Graças ao Papa Francisco, que também ensinou que Deus não abandona as pessoas boas, pois tem orgulho delas e as quer do seu lado. Santo homem!
Francamente, é exaustivo assistir o ateu, repetidas vezes, negar durante o desenrolar da encarnação inteira, insistindo que a vida não faz sentido, albergado na falta de fé. Para, posteriormente, se preocupar com o seu destino pós-vida, já admitindo sua falta de fé ou não ter dom para a fé, ao temer ver barrado o seu ingresso nos portões do Céu. Quando vislumbra iniciada a contagem regressiva para o fim de sua idade madura e que a teimosia só irá lhe fazer mal.
Ainda bem que Deus é paciente, misericordioso, benevolente e compreensivo com quem se obstina em duvidar de Sua justiça.

Antonio Carlos Gaio:
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