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QUANDO CRESCER QUERO SER LADRÃO

Está dando certo a estratégia de se colocar o pijama de presidiário em suspeitos de falcatruas. Já foi assim com Buratti, quando denunciou as mutretas do lixo de Ribeirão Preto, ao tirar o sorriso do caminho de Palocci para ele passar com a sua dor. No xilindró, a família Vendoin abriu o bico e encostou um quinto do Congresso na parede, revelando a identidade de uma canalha que fatura em cima de ambulâncias. Graças ao juiz federal Jeferson Schneider, que, numa ação isolada e heróica, arrancou detalhes vergonhosos de negociatas que tiram o crédito do eleitor e aumentam o preconceito contra os pastores de seitas crentes. Por que o juiz, quando promovido a instâncias superiores, fica mais sensível a chicanas jurídicas e perde o rigor no cumprimento da lei? Não estava na hora de dar um chega pra lá nos direitos adquiridos de Vossas Excelências? Se, para cobrir o rombo na Previdência, já taxaram o aposentado e querem arrumar um jeito de desvincular as pensões do salário mínimo? No sentido utilitarista da coisa, se a Justiça não anda, o que ganha o cidadão em garantir os privilégios da casta que sentencia? Não se trata de pôr olho gordo no salário dos magistrados, mas é que estamos sendo caçados nas ruas pelos ladrões e, à noite, assistimos pela televisão a outros tantos nos roubarem sem que tenhamos a menor noção de por onde circulam essas ratazanas. A polícia federal já não tem mãos para desencadear mil e uma operações e prender bandidos sofisticados até dentro da própria corporação. Uma gente que não se cansa de roubar, de necessidade virou vício. Para não falar de profissão: “quando crescer quero ser ladrão”. E quando legislam, então, não brincam em serviço. Além de não limparem as excrescências jurídicas que facultam aos maus elementos driblarem a condenação e ganharem liberdade antes do tempo, enriquecendo nosso convívio com eles. As crianças de doze, catorze, dezesseis anos, são as que nos dão mais alegrias ao nos assaltarem. Livres, leves e soltas, fazendo o que gostam, apenas porque nos sentimos com a consciência pesada por colocá-las tão cedo atrás das grades quando, por vezes, matam com mais requinte por terem se descompromissado da sociedade precocemente.
Diante de tamanho inferno de Dante, o presidiário não usa uniforme e sim pijama. Vive num imenso come-e-dorme, onde ninguém move uma palha e só pode ter idéia de jerico. Igualzinho aqui fora, onde ninguém ousa meter a mão nessa cumbuca. Gastar em presídio é desperdício, investir em educação não evita o “dimenor” e os parlamentares têm o rabo preso. Quer coisa mais grotesca do que marido, mulher, filhos, genros e noras irem em cana, discutindo numa mesma cela onde foi que erraram?

Antonio Carlos Gaio:
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