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SABER ESPERAR

Não conseguir o que deseja de todo coração pode ser um lance de sorte. Corre-se o risco de perder a guerra, mas não de perder a lição. A chave para sair fora das amarras que estreitam o horizonte de vida é franquear a passagem queimando as barreiras e findando a disputa, admitindo falhas em ser cerebral, o que não implica em falência do cérebro. 
Às vezes, não sabemos quem somos. Ora inabaláveis, uma cor que não desbota, ora fáceis de manejar, deixando aturdidos os que pensavam sermos imutáveis. Ora não tememos a obscuridade por ter a companhia de nossas visões, ora nos iluminamos no vazio com devaneios que irão se materializar.
O inimigo sempre morou dentro de nós teleguiado por farsantes que só têm a garganta para nos manietar, face à miserável existência a que se restringiram. Nem eles mesmos se agüentam. Só rompemos as costuras de nossas tradições, quando fechamos as portas para esses inescrupulosos que transformam nossas vidas em campos de teste ou laboratórios de experimentação.     
Que tal conservar-se encapsulado durante seu interminável tempo e guiar-se espreitando a 25ª hora em que a alma dá sinais de maturação quando tremelica de satisfeita? Quando vence a detenção em sofrimentos que o mantinham atado à vida passada, recupera o vigor infantil e volta a conjugar com a justiça imprevisível do mundo terreno em que as sentenças nem sempre esclarecem os desígnios da Providência.
Se você vier à tona antes do seu tempo de maturação, pode ser destruído pela impulsividade de algum guerreiro invejoso de seu porte e resplendor. A sua necessidade de aparecer o reduzirá a pó por querer forçar sua hora e vez de materializar tudo que ambiciona atingir. A alma tende a confirmar a Lei de Murphy e se encaminhar, em seu aperfeiçoamento, na direção oposta à determinada pela lógica e o seu fiel escudeiro, o nexo, perfilados em regime de inclemente vigilância. 
Ninguém te vê, reconhece, te dá importância, você está morto, enterrado. No entanto, a qualquer momento, você pode se redescobrir. O Oriente nos ensina a saber esperar. A saber enxergar os sinais que a vida lhe dá, a saber ouvir o que as badaladas dos sinos anunciam. A apurar sua intuição, sem permitir que a intelectualização no curso de uma vida civilizada obstrua ou sabote tudo que valeu a pena aprender. A observar bem o terreno em que pisa. Em silêncio, você constata, com surpresa, que o ser humano mente de forma contumaz. Para si próprio. Mas não consegue disfarçar quando a boca subitamente treme, o olho pisca descompassado, o nariz funga sem razão, a orelha coça e pica sem que haja mosquito por perto, bem como o paladar clama pelo doce que reverta o amargo.
Nascemos da mesma árvore, colhemos o mesmo fruto, a seiva que circula nos caules – nosso esteio – e vasos lenhosos, é o sangue de todos nós, a energia materializada, o alento de quem não teme unir os laços em matrimônio, pois que cão e gato, raposa e galinhas, lobos e cordeiros, judeus e palestinos, tão-somente reforçam e ampliam o conceito de família.
Uma história rica a de nossos ancestrais, em que não se distingue o real do mítico, a fábula da epopéia. A espiritualidade está presente para nos orientar e observar a atitude responsável por nossas ações, compartilhando o seu conhecimento. Uma maneira de alcançar a imortalidade, nos incentivando a ir a um lugar onde nunca estivemos antes.

Antonio Carlos Gaio:
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