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A BOA EDUCAÇÃO NÃO IMPEDE O CIDADÃO DE SE TORNAR UM REACIONÁRIO DE MARCA MAIOR

O bom debate em torno do estudante ter que mostrar domínio da norma culta nas provas de redação no vestibular. O engraçadinho que inseriu a receita de miojo na redação faria jus à nota alta, se não fora o desejo de brincar com coisa séria. O hino do Palmeiras não poderia se enquadrar no tema sobre imigração? Sem gozação, eu adoraria tecer loas à colonização portuguesa por incrementar a miscigenação que resultou na nossa mulata, finalizando, em alto estilo, com o hino do Vasco da Gama. Por que ir sapecando nota zero para punir o deboche, se isso pode refletir ousadia, iniciativa, coragem, bom humor, alegria de viver? As nossas queridíssimas professoras não se cansam de ensinar as boas regras de Português para inúmeras pessoas que circulam no Facebook comentando matérias políticas ou de interesse geral, em que deixam claro seu ponto de vista, mas de forma tosca ou tropeçando nos já famosos “enchergar” e “trousse”. Embora doa no fundo da alma, sabemos ser uma deformação do nosso desenvolvimento econômico não priorizar a qualidade do ensino, fundamental para superar um passado não muito longínquo que se atinha em lutar contra o analfabetismo, e no qual um projeto como as escolas de tempo integral de Brizola causavam urticária nessa mesma burguesia que hoje se indigna com um operário ter chegado à Presidência. Não cabe aplicar um incontinente zero em nossa formação deficiente. Há que separar o joio do trigo, pois os rigores de uma boa educação não impedem o cidadão de se tornar um reacionário de marca maior, guardando em seu íntimo, como um segredo inviolável, o menosprezo por quem não tenha alcançado seu nível e, consequentemente, por quem escreva errado.
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Antonio Carlos Gaio:
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