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CAMA DE PROCUSTO

Personagem da mitologia grega, Procusto simboliza a negação da ciência e a relativização de vidas humanas. Ameaçadas por outras pessoas mais capacitadas, e para evitar um suposto prejuízo de sua própria trajetória, Procusto e seus seguidores acabam assumindo um comportamento que visa desqualificar, menosprezar, humilhar e boicotar os seus contrários ou opostos ou os que lhes são de alma distinta – a síndrome de Procusto.
Deixou como legado: ai de quem não se enquadrasse nos seus padrões, impingidos de forma drástica e violenta. Não se referia a padrões morais ou que servissem de exemplo ou se tornassem paradigma para o mundo, afinal se tratava de quem fazia parte da mitologia grega. E sim ai de quem não se submetesse à força de quem ali mandava, a evocação de um poder autocrático ou ditatorial – a simbologia. Ainda não havia democracia, nem Câmaras ou Assembleias.
Em sua casa no alto da serra de Elêusis, ele induzia os viajantes, que passavam por lá e requeriam hospedagem, a dormir na cama de Procusto, que tinha seu exato tamanho. Se os hóspedes fossem demasiados altos, ele amputava o excesso de comprimento para adequá-los à cama, e se tinham pequena estatura, eram esticados até atingirem o comprimento suficiente para ocupar a cama. No entanto, jamais a vítima se ajustava ao tamanho exato da cama em virtude de Procusto, secretamente, dispor de duas camas de tamanhos diferentes. Para, de propósito, causar o mal e ser perverso exercendo seus podres poderes. De ver a vítima submetida ao seu poder de arbítrio.
Procusto representava, em regra, a intolerância do ser humano em relação ao que seu semelhante transparecia, significava ou simbolizava. Seja qual for o padrão dicotomizado, o mito já foi usado como metáfora para defender tentativas de imposição de um padrão em várias áreas do conhecimento, como na economia, na política, na educação, na história, na metodologia científica, na medicina, na administração, no direito, nas ciências sociais e na sociologia eleitoral. Padrão próprio de um monstrengo como Procusto, visando amordaçar e enjaular qualquer intenção evolucionista, por mínima que seja.
Procusto continuou seu reinado de terror até que foi capturado pelo herói ateniense Teseu que, em sua última aventura, prendeu-o lateralmente em sua própria cama e cortou-lhe a cabeça e os pés, aplicando-lhe o mesmo suplício que infligia aos seus hóspedes. O fim reservado a todos que se julgam inexpugnáveis e acima de tudo. Relegados a um papel secundário na mitologia. O mito com pés de barro se desfazendo em pó.

Antonio Carlos Gaio:
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