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CAPÍTULO 24 – POR QUE O BRASIL FOI ESCOLHIDO PARA SOFRER TAMANHO VEXAME NUMA COPA DO MUNDO EM CASA?

Quando o Brasil foi escolhido como sede da Copa de 2014, vislumbrou-se a certeza de ser campeão do mundo e em casa. De quebra, redimiria o fracasso de 1950. Poria o Brasil no topo do mundo como um país capaz de promover e organizar Copa do Mundo e Olimpíadas, ao mesmo tempo. A comprovar que cresceu muito, pelo menos, nos últimos 10 anos. Até virem as manifestações, um ano antes, para exigir educação, saúde, mobilidade urbana e segurança padrão Fifa em troca dos estádios que estavam ficando prontos. Restou das reivindicações o rastro de destruição dos Black Blocs com o slogan “Não vai ter Copa”, apropriado pela mídia e oposição com outra roupagem de modo a contestar a capacidade de gerência da presidenta e a tirar partido na campanha presidencial, aproveitando-se da queda nas pesquisas da classe política e, consequentemente, de Dilma. O país se viu sob fogo cerrado da mídia nacional e estrangeira e ainda bem que o torcedor de futebol está pouco se importando com a imprensa marrom. Mas o clima serviu para reavivar o espírito de vira-lata sempre latente nas elites brasileiras e em sua periferia – na classe média que pensa pequeno e vive de seus restos. Pois é assim que o futebol brasileiro namora, com a mesma mentalidade reducionista depois da derrocada de 1950, buscando a solução num técnico estrangeiro e querendo inspirar-se no mesmo modelo alemão de planejamento, metodologia, disciplina, inteligência, ordem e progresso. Há mais de 50 anos, fomos compelidos a chegar ao fundo do poço, entrar em crise, unir cariocas e paulistas, limpar a CBF (CBD à época) de dirigentes velhacos como Marin e à sua testa vir um presidente oriundo da natação (vôlei de hoje) para nos sagrarmos campeões do mundo em 1958. Mas registre-se que não se confiava em Garrincha e na personalidade de jogadores negros, que julgavam emocionalmente instáveis, tal como Thiago Silva se descontrolou nos pênaltis contra o Chile. Mas havia elenco e não carência de valores ou entressafra, como atualmente. E não se exportava talentos em tenra idade para se perder no futebol europeu ou desvirtuar a nossa escola, onde aprendeu e desenvolveu sua individualidade. O desastre de 7 x 1 para a Alemanha surgiu para nos alertar que não podemos seguir improvisando e que precisamos de estratégia; se os valores individuais escasseiam, que se fortaleça a noção de conjunto, até para dar mais personalidade a quem vem se destacando. Convenhamos, Parreira e Felipão já passaram de seu tempo. Podemos sim chamar nossos melhores jogadores do passado para dirigir o futebol brasileiro. Mas como, se os egos de Pelé, Romário e Ronaldo, para começar pelos gênios do futebol, não sabem formar uma equipe? O Brasil foi escolhido para sofrer tamanho vexame numa Copa do Mundo em casa justamente para se defrontar com esse dilema ainda mal delineado, e encontrar uma saída dessa arapuca que armamos para nós mesmos ao exportar nossos talentos. Como formar uma equipe para pôr no lugar de jogadores extraordinários, que não nos faltavam e que eram reconhecidos no mundo inteiro por terem conquistado cinco Copas para as nossas cores? Crise essa que igualmente se abate sobre o mundo inteiro (Alemanha não tem um Messi ou Cristiano Ronaldo) e que, nem por isso, diminui o prestígio do futebol. Ao contrário, com a Copa das Copas, aumentou sua fama, especialmente nos Estados Unidos. Muito devido a Seleções de menos tradição em Copa do Mundo (Costa Rica, Chile, Colômbia, México, Argélia) terem eliminado (Espanha, Itália, Inglaterra) ou incomodado outras do outrora seleto clube. Os 7 x 1 numa semifinal vieram para alertar o Brasil quanto ao desafio de não ficar para trás e mal acostumado e acomodado a uma profusão de craques que decidiam tudo. A desapegar desse confortável lugar.
Antonio Carlos Gaio:

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