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COMO OFENDER O HOMEM

A pior ofensa para o homem é aquela que mais ecoa no seu ouvido, sem parar, ao atingir o espectro da sua moral. Viado e filho da puta são os insultos invariavelmente escolhidos por serem os que mais humilham sua dignidade.
O viado está mais para bichinha, afeminado, mulherzinha, não propriamente para o gay, na acepção da palavra. Quando assim xinga, é uma mensagem de duplo sentido, com o intuito de agredi-lo carregando no viado toda uma frustração que deseja desabafar, senão despejar em cima de quem precisa diminuir. Como também uma tentativa para entusiasticamente encorajar os supostos homossexuais a pegar no seu pau ou induzi-los a ficar de quatro para que possam ser usados por seus ofensores e fazê-los de gato e sapato. Tornando-os passivos de sua hiperatividade em rebaixá-los. Podendo terminar ambos engatados num jogo cúmplice – o desejo gay.
É óbvio que nenhum homem, quando enche os pulmões para cuspir o filho da puta, acredita que todas as mães sejam profissionais do sexo. Puta significa que o filho, para ter nascido com aquele perfil que o está irritando, só pôde se originar de uma mulher que não foi boa mãe, descuidando-se de sua educação, não parando em casa e mostrando-se relapsa com seu papel na sociedade, ao abusar da liberdade e agredir as convenções sociais, revoltada com condições que lhe foram impostas. Provavelmente não se circunscreveu ao seu script por gostar muito de sexo, possuir furor uterino e precisar de relações para acalmar seu fogo. Se nada disso for verdadeiro, pouco importa, pois de quem eu gosto, tem a puta mãe no coração; a quem eu abomino, uma mãe puta – o desejo por uma vadia.
É quando os homens descobrem entre si uma ameaça comum: o ódio de que as mulheres usem o seu próprio desejo como arma de retaliação e os estragos que isso pode provocar nos seus redutos.
Por séculos, impuseram à mulher o obscurantismo do encarceramento de seu desejo, até o homem chegar ao paradoxo de descobrir em si mesmo desejos inconfessáveis, salvo se dividi-los com um igual. Ou cair de paixão por uma vagabunda de caráter que o leve a renegar todo o passado de que se orgulhava.
Quando antes a imergia no casamento, transformando o sexo num sofrimento imposto, nunca uma iniciativa de prazer. Se não colhia o sexo de sua esposa, à força. Pois considerado o estupro um grande remédio punitivo para corrigir moçoilas rebeldes. Quando, na verdade, o distanciamento e o desprezo impingidos serviam para esconder a insuficiência de cada um.
O difícil, de fato, é responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, se as mulheres se julgam irremediavelmente incompletas, à vista do mundo que lhes é oferecido.

Antonio Carlos Gaio:
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