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RELATOS EXTRAÍDOS DO CONFINAMENTO (V)


O confinamento pode nos apequenar diante de um beco sem saída ao pôr em cheque o nosso livre-arbítrio. Nesse domingo, eu me refugiei em quando era uma criança, apelando para o colo da mãe, onde lá estaria seguro de qualquer intempérie. Seja um vento que uivasse sem parar, uma noite escura ameaçadora ou mesmo um espírito sombrio que interrompesse o meu sono. Quando minha mãe me dizia para eu sempre lembrar que ninguém me amaria mais do que ela. Sempre que eu estivesse aflito, ela viria me acudir. Nessa idade, respirei aliviado. Repetido na adolescência, dono da verdade, debochava do drama no qual ela se inspirava no cinema mudo, a forte influência de sua geração. Como rapazinho, e já casado, interpretei a reiteração como um ciúme da nora. Ou seria uma possessividade natural numa mãe? Depois dos cinquenta, seu amor mostrou-se com maior certeza diante do amor incondicional ter desaparecido com a evolução da mulher. Com a morte da minha mãe perto dos 70 anos, só aí eu descobri que ninguém me amou mais do que ela. Apesar de sua vida permeada por frustrações amorosas de todos os gêneros. Mas suficientemente sólido o amor para me amparar no confinamento ao sorver de colheradas de doce de goiaba que ela bem fazia, e que agora acalentam minha alma aflita e insegura pelo fato de que o mundo não mais irá voltar a ser o que era antes da pandemia. E, para me preparar diante de um novo mundo que se avizinha, somente o amor de uma mãe que me acolheu incondicionalmente como ponto de partida. Até para resgatá-la de onde a mandaram para se curar de feridas provocadas pelo próprio amor, e reaproximá-la de mim. O que só fará bem a ambos. O mundo invisível do novo coronavírus atuando de conformidade com a recíproca invisibilidade do Plano Espiritual.

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Antonio Carlos Gaio
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