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FIM DO MUNDO EM LONDRES

O fim do mundo começará certamente pelos Estados Unidos. Contudo, Londres já nos proporcionou uma pré-estreia quando o terror se espalhou com depredações de bancos, supermercados e lojas, seguidas de saques generalizados de aparelhos eletrônicos, celulares, sapatos e roupas. Sumiram das ruas pedestres, carros e ônibus. Bares e restaurantes fechados. Todos preferiram ficar em casa, embora corressem o risco de ver suas moradias incendiadas – uma população paralisada pelo medo. Se ciclistas estavam sendo espancados e roubados. A população, para se defender, se arma com facões, tacos de beisebol e de golfe, saudosa da última vez que o Exército ocupou Londres em 1919, enquanto os 16 mil policiais da Scotland Yard não entram em campo para se lançar à maior caçada humana de sua história. Quem são os encapuzados que roubam? A maioria é negra, mas que importa se, até prova em contrário, já nasceu com culpa no cartório. Já foram presos cerca de 700, prevalecendo os com idade abaixo de 30 anos, provenientes de áreas com alto desemprego e poucas perspectivas de ascensão social, à margem da sociedade. Por meio do roubo de artigos mais caros e de marcas famosas apenas exteriorizam a revolta com os poderosos que nunca lhes deram a mínima e ainda elegem governos conservadores obcecados em conter os gastos públicos e cortar benefícios sociais. Os mesmos que se associaram a gângsteres do jornalismo como Rupert Murdoch, que manda e desmanda no Reino Unido ao ter implantado uma rede de crimes que feriu de morte a privacidade dos britânicos. Quem tem pouco tirar de quem tem muito lembra Robin Hood, na terra que lhe é apropriada. Hoje é consequência do desespero alimentado pela exclusão social. Embora a última imagem que fique é a de desordeiros no prazer do saque ao perceberem que a polícia encolheu de medo.

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Antonio Carlos Gaio:
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