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MORRE O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO

Morreu o escritor J. D. Salinger, que impactou a juventude em 1951 com o seu primeiro livro, “O apanhador no campo de centeio”, publicou mais três livros e em 1965 se retirou do cenário de celebridades como uma Greta Garbo, para nunca mais ser fotografado, filmado, posto no YouTube, jamais dando o ar de sua graça em entrevistas de jornais e revistas, rádio ou TV. Até morrer em 2010, aos 91 anos.
Manteve-se recolhido durante 45 anos em sua casa de New Hampshire, rejeitando o assédio dos fãs e da imprensa, bem como jogando na lata do lixo ofertas de adaptações de seus livros para o cinema. Fechou-se para o mundo depois que se tornou best-seller e foi aclamado por leitores e críticos, com a reputação do mais talentoso autor americano surgido no pós-guerra, que vendeu cerca de 65 milhões de apanhadores – número que não para de crescer.
Voltado para expor as hipocrisias da sociedade, no espírito de um adolescente que não tolera os mais velhos e não quer ficar igual a eles, por considerá-los farsantes, torpes e nojentos em suas articulações, Salinger fez sucesso ao revelar nos anos 50 que os jovens não eram levados a sério – no sentido macro e global. Sua forma de pensar e suas ideias próprias eram vistas com desdém por não terem experiência e desconhecerem por completo a vida. O sacrifício dos pais em educá-los e lhes dar formação é que vinha em primeiro lugar.
Salinger foi o corneteiro do inconformismo com a acomodação, a falsidade, a repetição, as frases feitas e o tédio que tudo isso provocava, seja na vida em família ou em qualquer canto dos infernos. Um dos precursores a integrar o palavrão à linguagem educada do colégio de freiras. Liberou um canal de voz próprio para os jovens, sem uma visão muito clara, esmagado pela revolta com o cotidiano e de saco cheio com o mundo à sua volta. De fundamental influência na juventude transviada e no adolescente rebelde.
Aos 46 anos, o escritor virou seu personagem e se tornou recluso de sua própria criatividade genial. Escondendo-se atrás da figura projetada por sua fama. Refugiando-se na mente juvenil de Holden Caulfield, “o apanhador no campo de centeio”, como parte inseparável de seus livros. O rebelde que se decidiu por calar sua voz. Debatendo-se para morrer em vida. 
A morte do escritor obriga a um mergulho nas profundezas para distinguir a realidade da ficção em J. D. Salinger. Se virou uma caricatura e se tornou um rebelde sem causa, ele que era contra o fingimento e a falácia. Se a luta pela honestidade de propósitos e integridade fez mais uma vítima em quixotescos seres que de vez em quando descem à Terra. Ou se, de uma leitura acurada de sua obra, não sobrevém uma interpretação dessa realidade somente possível se distanciado no tempo e no espaço.

Antonio Carlos Gaio:
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