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O ANEL DE GIGES

Platão conta em “A República” que Giges, pastoreando suas ovelhas, encontra uma cratera aberta e vislumbra o cadáver de um homem num cavalo de bronze. Com um anel no dedo. Giges descobre que, manipulando o anel, pode se tornar invisível. E cometer várias ações maldosas e perversas para se vingar do mundo injusto e ingrato.
Tudo relacionado a grego vira lenda ou mito para nos explicar que toda ação é legítima, enquanto não conhecida se o que a move é do bem ou do mal. Luta-se pela democracia e para facilitar o acesso do leigo a instituições obscuras que interferem no bem-estar da população a que servem. Enquanto uma luz pública ali não penetrar, incentiva-se uma série de atos moralmente abomináveis. Sufocam-se CPI’s, arquivam-se investigações sobre grampos, parem e abortam dossiês do nada, distribuem cala-bocas a três por dois, para impedir que a história real venha à tona.
Luta-se para que não proliferem os Senhores do Anel de Giges e haja transparência no percurso político, de forma que os rastros identifiquem seu perfil e se há delinqüência nos atos cometidos. Preserve-se o voto secreto do eleitor e torne-se público a vida privada do parlamentar ao votar a causa pública, senão ofende o cidadão que representa, emasculando a cidadania, que é feminina. Que se abra a caixa de Pandora não somente para avaliar a política em termos de honestidade pessoal. Pautar o comportamento público apenas pela corrupção é manter o cérebro ocupado com a pena de Talião. Alá é grande, mas olho por olho, dente por dente, derrubam torres e satanizam talibãs, e não transparecem o que o Anel de Giges destrói inescrupulosamente.
Anos de construção e dor consumidos para propiciar um mínimo de paz e boa vontade aqui na Terra como no Céu.

Antonio Carlos Gaio:
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