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QUEM SÓ VALORIZA O CORPO, TENDE A AMAR A IMAGEM

A história de um síndico que gostava de posar de advogado sério e bem casado. Sempre com uma mulher mais jovem e engraçadinha para ele sair bem na foto. Dou-lhe uma, dou-lhe duas e dou-lhe três. Um filho por cada vez para prender a mulher àquele casamento. De maneira que, no momento em que a esposa descobrisse quem na verdade ele era e o seu caráter, o filho serviria de empecilho para retardar a separação. Só o que ele não contava é que bastava o filho se fazer presente na gravidez para o corpo da esposa iniciar um processo de deformação que não teria fim com o nascimento do rebento, cada vez mais distante do corpo de quando a conheceu. Na medida em que a ex-miss vai se tornando um tribufu, o síndico vai esfriando e deixando de amá-la. Tanto valorizava corpo que, mesmo na fase áurea dos casamentos, não se cansava de ganhar torcicolo para cada ninfeta que passasse à sua frente na praia. Seja com quem for que estivesse conversando, brindava a todos com o seu comportamento cafajeste de metido a garanhão. O orgulho ferido de não mais poder exibir o corpo de sua mulher o levava à reposição por um modelo mais novo. Até que, um dia, caiu em desgraça, quando lhe perguntaram se era o avô do seu filho. De síndico simpático e cordato, virou um interventor chato e implicante, ao se dar conta de que tinha morrido e não sabia.

Categories: Croniquetas
Antonio Carlos Gaio:
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