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UNILATERAL

Páreo duro os muçulmanos com os judeus. Como se não fossem oriundos da mesma mãe. Quando enfiam uma idéia na cachola, ai de quem ousar meter a mão, cortam-na. A cada dia infligem um golpe mais duro nos soldados invasores, ceifando vidas no Iraque que deixam perplexa a família americana com fumaças de maus presságios. A América terá de fugir, era o território do Islã que estava em jogo, seus inimigos estão dispostos a matar civis inocentes, funcionários de agências humanitárias, soldados da coalizão, a Cruz Vermelha, o que for necessário para que a opinião pública se volte contra Bush.
De cambulhada, acabaram expondo as vísceras da democracia americana. Bush emergiu de votos oriundos de eleições duvidosas com apuração anacrônica, corroborando a mentalidade texana diante da queda das torres gêmeas, um acinte ao símbolo fálico do Senhor dos Anéis em que só coube uma decisão arrogante e unilateral de invadir e ocupar. De forma igual a quando pisamos uma barata, esmagando a nojenta.
Desfazendo uma aliança nascida na 2ª Guerra Mundial para combater o nazifascismo que avalizou o compromisso com democracias liberais que exploraram mercados egressos do fim do colonialismo, bem como a necessidade de deter a União Soviética.
Contudo, não há lua-de-mel que não termine. Para a Europa, em 1989, ao tirar vantagem do colapso do comunismo para costurar a política num único grande bloco econômico. Para os Estados Unidos, em 2001, obrigando todos os visitantes a deixar suas impressões digitais assim que pisarem no aeroporto: sorria, você está sendo filmado! Acordam de noite, antenados com o próximo ataque terrorista, ainda não despertos para a realidade de que estão sozinhos. Constroem um muro em torno de si mesmos, reforçando uma cultura voltada para atender a seus sonhos. Sonhos que imperam liberdade e auto-realização, a sociedade se auto-regula nos limites de suas fronteiras.
A hegemonia norte-americana é mais ameaçadora à estabilidade global do que a tirania de Saddam Hussein. Exercem o poder soberano e só se preocupam em partilhar a soberania quando sua segurança falha. Com todo aparato de inteligência e cabeças pensantes que os assessoram, suprem e influenciam, ainda não admitem que o planeta ficou pequeno para tanta gente com celular e computador. Virou um vício, é tanta coisa para falar, sem ter o que dizer.
Ser unilateral corre por conta do livre-arbítrio, mas se exagerar no tom, sofre-se as conseqüências e afasta-se do convívio com os outros – é para lá que os Estados Unidos se encaminha. Não que seja a sétima maravilha do mundo, mas saber lidar com gente chata, entediante e desagradável, não é dar pérolas aos porcos, exercita-se separar o joio do trigo, indispensável para evoluir e se desenvolver. Mantém a mente arejada. Ganha-se na capacidade de argumentar e de construir idéias novas. Ao aproximar as cadeiras e levar uma idéia, evita-se uma sociedade estressada, paranóica e intolerante. Quando se celebram acordos que abrem mão do que lhe toca, desse palavrão chamado unilateralidade.

Antonio Carlos Gaio:
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