Há quem escove os dentes não se restringindo à área do banheiro, percorrendo a casa toda como se estivesse fazendo a coisa mais normal do mundo. Começa entrando pelo quarto adentro e se escovando na frente do marido, a exibir aquela gosma que dizem que é espuma de dente, tirando toda a poesia do casamento, que não precisa dessa porcalhada para dá-lo como terminado. Vai até a sala para olhar como está o tempo, só faltando enxaguar a escova na chuva ou pegar um pouco mais de água para escovar as gengivas e a língua já podres de bactérias. Vai até a cozinha para esquentar o leite, tirar a calcinha do varal e escovar os dentes sisos. Abre a porta e apanha o jornal caprichando nos dentes molares. Rega as plantas sem se esquecer do céu da boca. Retorna triunfalmente ao banheiro para completar a assepsia bucal com gargarejos que completam o circuito nojento. Embora exista gente que, como prova de amor, beije uma boca que mistura feito uma centrífuga a saliva, o cuspe e a pasta de dente.