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POR QUE ALGUNS MORREM ANTES DO TEMPO?

Por que certas pessoas extremamente criativas se vão antes do tempo? Quando nos dão a sensação que, se prolongado o seu interstício de vida, seriam mais úteis para uma humanidade que ainda se chafurda na ignorância e no preconceito.
Produzem tanto em tão pouco tempo o que nunca havia sido visto antes, que justificam as lágrimas derramadas e a saudade que não quer parar de bater no peito, a lembrar da epopeia de suas invenções. Precisamos de um contingente maior desses raros espíritos que somente encarnam para trazer alento com sopros de maior conhecimento. Pois se o que causa espanto na evolução da medicina, além do resgate de mais vidas, é um crescente espírito de cooperação a nos querer evidenciar que, se houver maior simbiose na solidariedade, daremos passos de gigantes em direção a um mundo com menos desigualdades.
Embora os cientistas levem anos a fio em suas pesquisas voltadas para grandes descobertas e custam a falecer, por outro lado, surgem gênios desde crianças que, ao atingirem o limiar dos 35 anos, esgotam a exploração dessa verdadeira mina de ouro que carregam dentro de si e desmoronam, soterrando o veio que iluminou a face incrédula de agnósticos que não abrem mão do teste de São Tomé. Os heróis de Cazuza pintam, pintam, pintam e morrem de overdose. Outros atraem assassinos para que matem sua genialidade ou a mensagem de paz de Gandhi e John Lennon – agrediram com sua lucidez aos pobres de espírito. Outros, frágeis em sua maestria, se suicidam. Outros, nem isso. Compõem sonatas e versos que atravessam séculos mas morrem ilustres desconhecidos, sem fazer jus ao sucesso merecido, ou sequer com a certeza de que tinham talento, se em meio às baratas que comemoram seu fim.
Quando não é a justa fama que os derrota precocemente e seca a fonte, obrigando-os a buscar em outras plagas o que nunca encontrarão igual ao que já alcançaram, a exemplo dos maias, que bateram em retirada da frondosa pirâmide que erigiram em Chichen Itza por faltar água nas redondezas.                 
Os que desaparecem antes do tempo parece que vieram ao mundo com prazo de validade fixado. O suficiente para que sua mente privilegiada revele o que não conhecemos e travemos contato com seres, temas e dimensões ignoradas, mesmo que sob a forma de ficção. O que não assusta e, ainda por cima, diverte, já que necessitamos ser enganados por não suportarmos uma nova realidade que se apresente nua e crua.
Aos nossos olhos, que costumam pecar pela platitude, afigura-se um desperdício personagens inesquecíveis irem embora antes do tempo. Um despropósito mesmo. Todavia, não somos colocados a par do quanto essas criaturas se deprimem com a realidade que não se transformará ao feitio de sua mente privilegiada. Indignadas, reagem investindo-se de Deus, tamanha a crença em seu potencial; o que as leva a não se cercar de cuidados, como submergir à espera de um momento melhor. Essas pessoas tão especiais preferem gastar toda sua munição antes do tempo, consumidas por suas ideias e ideais, abreviando a vida. Não se conformando com o caráter divino de uma mente fértil, o espírito se entristece, falecendo os órgãos vitais.

Antonio Carlos Gaio:
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