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ESTUPRO COLETIVO

O estupro coletivo não costuma ser algo premeditado, geralmente decorrendo de uma oportunidade fortuita em que a ocasião faz o ladrão, típica do caráter de homens que gostam de se aproveitar para levar vantagem. Dificilmente as vítimas conseguem escapar ilesas. Irão apresentar sintomas de estresse agudo, como ansiedade, depressão, angústia e paranoia, com medo de que possa acontecer de novo, somados a um quadro de insônia. Também não estão livres de acordar no meio da noite, assaltadas por dúvidas como lidar com o sexo a partir do estupro e o sentimento de culpa subjacente. Se bem que os estupradores não hesitam em assassiná-las para não serem denunciados.
O estupro deriva da cultura machista de homens que acham que podem usar o corpo feminino a seu bel-prazer e de considerá-lo um ato punitivo para as mulheres que não se enquadram no seu parâmetro de normalidade. Como, por exemplo, estuprar lésbicas para ensiná-las a sentirem prazer como mulheres héteros. Ou para reafirmação masculina de jovens inseguros, com dificuldades em se iniciar ou fixar suas bases em razão da personalidade fraca, necessitando se impor no seu meio. O estupro coletivo é a banalização total dessa violência num contexto onde ainda prevalece a vontade do senhor feudal sobre as outrora virgens de seu reinado.
O que leva os homens a cometerem esse tipo de crime? Se o machismo mata, mas o feminismo jamais matou alguém. Se a culpa nunca é da vítima. Ela é estuprada por ser mulher. Não faz a menor diferença a estuprada ser usuária de drogas ou mãe. Os ataques somente diminuirão no dia em que os homens respeitarem sua mãe, suas irmãs, sua avó e a quem mais considera personificadas na mulher.
A referência maior ao estupro coletivo é a sociedade patriarcal da Índia, na qual a violência e a discriminação contra as mulheres permanecem profundamente enraizadas, a explicar por que bandos covardemente estupram moças indefesas em ônibus, que, à noite, e segundo sua cultura retrógrada, já deviam estar em casa a partir das 19 horas, e muito menos lutar quando estupradas, apenas ficar em silêncio e principalmente não contar nada para ninguém. O Brasil não fica atrás, seja batendo o recorde de 33 estupradores por violentada, seja utilizando-se de drogas para deixá-la no torpor e o estupro coletivo se converter em atração em festinhas de universidades com estudantes de nível superior.
Eles se vangloriam na certeza de que há um público fiel e cativo desse tipo de crueldade. Como a impunidade anda abraçada com a violência, os facínoras se dão ao desplante de publicar os estupros nas redes sociais, sendo correspondidos com compartilhamentos aplaudindo cenas horripilantes, em notória demonstração de que outros casos semelhantes podem se repetir.
No pós-estupro, a objeto de torturas sexuais se flagra observada pelo seu entorno como se fosse um lixo, a examinar se ela ficou toda estragada ou no bagaço. Vê-se alvo de interrogação reportando-se à roupa tão curta que habitualmente usa ou se foi ela quem quis ir para o abatedouro (local do estupro), deixando implícito que orgia não é estupro. E ainda o medo de acabar sendo responsabilizada pelo que aconteceu. Toma banho a toda hora por se sentir suja, imunda e nojenta. No chuveiro, em contato com seu próprio corpo, constantemente rememora, chorando, o castigo que lhe foi imposto.
Com dois a três homens segurando-a para que não fugisse, mantendo-a presa pelos braços e para que as pernas permanecessem abertas, embora dopada por algum tipo de sonífero, enquanto outros dois a violentavam, quando não ao mesmo tempo, fazendo uso até mesmo das armas, em meio a um falatório grosseiro e agressivo: “Eu sei que você gosta, safada, sua piranha”.
A sensação é de total desproteção e sujeita a qualquer holocausto. Se pudesse sair dali, mas como? “Achava que ia morrer, pensei que eles iriam me enforcar.”
A justiça humana é impotente para conter o estupro coletivo.
Não, não dói o útero, apesar de sangrando. E sim a alma, por existirem homens cruéis e impunes! Nenhuma mãe espera criar uma filha para que lhe suceda um estupro coletivo.

Antonio Carlos Gaio:
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