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VOCÊ JÁ CHATEOU HOJE?

Vivemos no mundo dos chatos. Daqueles que extrapolam os limites da chatice “falando” no chat. Sim, porque as palavras, ou teclas abreviatórias despejadas no branco da janelinha insistentemente piscante, só demonstram quanto tempo as pessoas têm perdido com coisas inúteis. E se você pensou que me refiro a jovens monossilábicos, aculturados, trocando grunhidos, esqueça. Eles, sim, são felizes. Cultivam suas amizades e enchem suas rotinas de alegria, zoação, brincadeira…
Meu papo é com os executivos, editores, gerentes, chefes e afins que perdem seu tempo se estressando com cobranças absurdas, piscando de cinco em cinco minutos na tela de seus amados subalternos. Sendo que, em se tratando de chat, os minutos duram uma eternidade, que fique claro! Por isso, as perguntas vêm de segundos em segundos, para dizer a verdade. O pobre coitado do trabalhador, ao ver as mil perguntas do “superior” pipocando na tela, não tem nem tempo para pensar na resposta que vai dar para as tais cobranças. Quanto mais para realizar as tarefas que lhe foram encomendadas!
Os subalternos, por sua vez, também só desperdiçam teclas e preciosos segundos com os tais chats. Infelizes com sua pobreza, investem na pobreza de espírito e perdem seu tempo falando mal do colega de trabalho, que é tão ferrado quanto ele, só para despejar sua raiva e se sentir vingado. Com medo de ser passado pra trás. Será que ele não vê que o tempo em que está digitando inutilidades, ridicularizando ou odiando alguém, esse alguém, o “concorrente”, pode estar saindo na frente, realizando um trabalho melhor que o dele? E é aí que mora o perigo…
Agora, acabo de descobrir que também se fazem entrevistas de emprego pelo chat. “Que idéia genial!”, pensei, ao ser convidada para um processo de seleção online e a jato. Caiu como uma luva. Eu saí do trabalho dizendo que ia almoçar e fui teclar com o empregador no escritório de uma amiga, ali pertinho. Mas, ao chegar lá, mudei de idéia completamente.
Em primeiro lugar, por mais que tente, não consigo me acostumar com essa mania de conversar e botar as fofocas em dia por e-mail, orkut ou chat. Trabalho produzindo conteúdo para web, desde os primórdios da internet, mas sinto falta da privacidade do encontro, do calor da voz e das expressões faciais do interlocutor, do seu movimento corporal. As palavras nem sempre são os melhores indícios de que a pessoa que as digita está sendo sensata, verdadeira, correta. Preciso analisar o conjunto para saber onde estou pisando. E não ser pisada.
Pois só não digo que me senti pisada, chateada e infeliz nesta entrevista por um motivo: me orgulho cada vez mais de ainda não ter pirado diante da convivência com tanta gente estressada, apressada, de mal com a vida. É, porque só mesmo um louco iria querer testar meus conhecimentos em inglês me mandando traduzir pequenas frases, divididas em três pedaços cada. Quando hesitei para traduzir uma parte dessa loucura e perguntei o que era a tal montagem a que ele se referia naquele fragmento, ele não gostou e já foi mandando um “óbvio que é um show!” Como assim, óbvio???!! A entrevista era para uma revista ferroviária!!! E os pedaços de texto anteriores passavam longe da idéia de show. Mas vamos lá: tentei contornar e não deu. Fiquei nervosa e, como o inglês não é minha língua, não consegui concatenar os pensamentos com a tradução depois disso. “Ok, bye”, disse o cara. E eu só não mandei ele “kiss my ass”, “mother fucker”, “big asshole”, porque queria me despedir de cabeça erguida. Foi então que eu disse: “Para escrever em inglês não se pode traduzir o português literalmente, por partes, já que eles dizem muito mais com muito menos palavras”, e enfim, mandei um “obrigada pela oportunidade”.
De noite, a caminho da faculdade, um ônibus grudou na minha traseira e piscou reclamando por eu ter deixado um carro entrar na fila à minha frente. Depois, tornou a piscar porque na minha frente tinha outro cara lerdo. Eu estava na pista da direita, tá? E os malandrinhos acelerando pelo acostamento… Meu Deus do céu! Quando é que o mundo ficou tão louco? Quando é que o tempo diminuiu tanto a ponto de acelerar a pressa e fazer as pessoas se acharem no direito de passar na frente, de reclamar de uma gentileza, de buzinar para alguém que anda sem avançar o cruzamento? Só hoje, já li o jornal, arrumei a casa, saí da Barra para trabalhar no Centro, assisti aula na faculdade, joguei futebol e passei a noite redigindo esse desabafo. E não agredi ninguém porque estava com pressa para chegar até o fim do dia! Será que eu sou um ET?

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Antonio Carlos Gaio
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