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MITOLOGIA BRASILEIRA

Olga está sendo incensada. A mulher de Prestes se transformou em heroína. Ao ser deportada grávida de sete meses e embarcada num cargueiro direto para as garras de Hitler. Com a filha de um brasileiro no ventre. Do brasileiro Cavaleiro da Esperança que lutou na década de 20 por um país mais justo, livre das oligarquias decrépitas da República Velha. Seis anos depois, Olga se tornou mais uma vítima do extermínio nazista.
O peso do caudilho, dentre tantas facetas de Getúlio, sobre as costas de Olga, sobrecarregando a consciência nacional. O que deu margem ao aparecimento de caçadoras de outras olgas, que exploram o filão do anti-semitismo cevado no Holocausto, identificando na Era Vargas uma política xenófoba que endossou camufladamente atitudes fascistas.
Getúlio pendurado pelo pé, como Mussolini.
É falso, segundo o historiador Juremir Machado da Silva: não existia câmara de gás em 1936, o Estado Novo ainda não era realidade e o Supremo Tribunal avalizou a deportação de Olga, no ápice de uma época em que política e barbárie andavam de mãos dadas e muitos confrontos ideológicos se resolviam na base do pelotão de fuzilamento. Ninguém imaginava ainda o que seria o Holocausto.
O fato é que Olga Benário era uma agente do Partido Comunista com missão de Stalin para derrubar o governo, o que significaria paredão para Vargas. Foi escalada para fazer a segurança de Prestes. Da união em prol dos ideais comunistas, a castidade de Prestes se foi e nasceu Anita no seio de uma prisão nazista. Arrancada das mãos da mãe, sofreu sua infância no México até conhecer o pai livre da solitária que lhe impuseram.
Em plena costura de uma aliança com seu carcereiro em torno de uma Constituinte para legalizar o Partido Comunista, Prestes chocou o país com seu pragmatismo. O oposicionista mais ferrenho, mobilizado em nome dos interesses maiores de seu partido, acabou por fortalecer a figura máxima do Estado Novo.
Se existe um legendário extenso em torno dos deuses gregos, por que não começar uma mitologia brasileira? Colocando no altar de um templo Prestes e Olga, já que nem Getúlio Vargas conseguimos enterrar. Daqui a 300 anos dirão que é lenda, duvidarão que isso tudo tenha acontecido de verdade.

Antonio Carlos Gaio:
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