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NÃO TENHO MEDO DA MORTE, MAS NÃO QUERO MORRER

A vida é realmente uma luta em que nós vamos compreendendo a verdadeira dimensão das coisas à medida que encaramos curvas, subimos morros e caímos em atoleiros para nos ensinar a cultivar mais humildade e a viver de forma correta, polindo nossa consciência de modo a não desonrar a jornada existencial.   
Você vai viver o tempo que Deus quiser. Ninguém morre de véspera. Uns se despedem com a cabeça boa, a mente íntegra e com o coração amando o próximo. Outros com a alma corroída provocando dores no corpo, a sinalizar não saber se a morte é melhor ou pior. Não tranquiliza a explicação de que a morte é um fenômeno natural: assim como veio, você vai.
Contudo, de fato, você não quer morrer e desapegar de seu corpo. E tampouco consegue evitar o medo. Se houve uma perda de vitalidade ou até do próprio interesse que o conectava mais à vida. Se o acúmulo de pensamentos o castiga como uma chuva, sem parar, e não lhe permite se concentrar. Ainda mais se o sono escasseia ou o põe a nocaute em pequenas doses ao longo do dia. A depressão não pode explicar tudo.
A prova é que se você levar um tiro, que apenas o feriu, e buscar uma saída, a dor só assumirá sua dimensão real quando estiver a salvo. O organismo o protege dessa dor em favor de sua sobrevivência.
No entanto, as dores na alma estão ganhando a guerra. Embora sinta vergonha de confessar que angústia e aflição progridem a olhos vistos. Não é muito digno admitir que a vida esteja perdendo sentido. Mesmo porque as pessoas só enxergam a dor física. Se os circuitos que acionam a dor na alma não forem cortados, eles se fortalecerão. É como se fosse um músculo: se usada a musculatura, ela enrijece; do contrário, atrofia.
E aí será tarde demais. A área do cérebro responsável por receber a informação de que continua com os dois pés na terra findou irremediavelmente danificada, como se os circuitos cerebrais que ativam a nossa criatividade tivessem sido queimados. Não adianta dizer que não quer morrer porque não encontra eco. Quem mandou apregoar, sem medir consequências, que não tinha medo da morte? Porque agora, efetivamente, você está! Tamanho o desprezo que devotou a causas perdidas, achando que nada iria acontecer em decorrência, e desperdiçando a chance de perseguir uma terceira via nunca aventada, de forma que as malsucedidas experiências anteriores servissem de terreno seguro para restabelecer um clima de fé e de força de vontade.

Antonio Carlos Gaio:
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