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O FIM DA VIDA É UMA GRANDE PIADA?

Por considerar que se encontra em idade para morrer, aos 76 anos, com problemas de diabetes, cardíacos e o que mais existir, ele adquire um tom melancólico, que lhe é próprio, e assume um tom de despedida ao declarar que não sente mais prazer ao escrever, constatando que a vida no seu desfecho final é uma grande piada. Justamente porque a morte torna a vida meio sem sentido, uma coisa absurda. Melhor encará-la possuído por esse surrealismo do que nos desesperarmos.
Quando ele não desconhece que tudo na Natureza tem início, meio e fim. Embora Einstein tenha afirmado que tudo é relativo e, portanto, a vida continua, segundo André Luiz, psicografado por Chico Xavier. Acontece que nós não somos deuses para gozar do direito à imortalidade. Mas temos o livre-arbítrio para criar nossa própria história que, dependendo de como a desenvolvemos, pode até se converter numa lenda e se incorporar à mitologia do espírito humano. Com sua inteligência privilegiada, ele leu muito a respeito de personagens importantes da Humanidade que foram paradigma para enriquecer o saber de seu espírito único. E que não lhe deram motivo para chiste ou gracejo.  
A despeito de comparar o espetáculo da vida a uma comédia chinfrim, ele sempre foi humilde, de fala mansa e o oposto de quem grita palavras de ordem. Mas não encontra mais sentido em falar de esquerda e direita, desencantado por ver ruída a ideia de solidariedade humana e o modelo de sociedade igualitária ou com mais justiça social, em virtude de o capitalismo financeiro ter se apossado dos valores humanos.
Seu auge foi quando, nos anos noventa, cunhou tudo que emanava da presidência de Fernando Henrique Cardoso como Pensamento Único, por granjear admiração inconteste das elites, da burguesia e da mídia, conquanto o povo o aprovasse por ter debelado o monstro da inflação. Crônicas lúcidas e brilhantes foram vertidas dissecando o Pensamento Único, mas que nunca mereceram publicação, numa velada censura para não desconstruir o falso deus, fato esse contra o qual jamais se rebelou, tomou uma atitude ou levou-o ao desespero. Descrente de tudo. Ele que nunca se alinhou com o reacionarismo. Apagando seu brilho.       
Ele se assina Luis Fernando Verissimo.
Antonio Carlos Gaio:
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