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O SEGREDO DOS SEUS OLHOS

O Segredo dos Seus Olhos

Dentro da rivalidade que cerca Brasil e Argentina, além da psicanálise, o cinema argentino supera o cinema brasileiro. Não muito. É um cinema inteligente; o nosso, mais febril e criativo. Juan José Campanella é o cineasta que já nos deu “O Filho da Noiva”, “O Clube da Lua” e “O Mesmo Amor, a Mesma Chuva”, onde entremeia sequelas da ditadura militar e carga de sentimentos que nos levam a endeusar cada vez mais Ricardo Darín. O tipo do ator que se tivesse nascido na América seria seu darling, como hoje é Meryl Streep. Darín nos atrai para o interior problemático de seus personagens, deixando-nos angustiados por não entender por que ele não se declara para Soledad Villamil, a esposa dos sonhos de “O segredo dos seus olhos”. Obcecado pelo passado de não ter prendido o assassino que interrompeu uma grande história de amor em curso, detendo-se perdido nas memórias e correspondendo à sua vocação de autêntico roda-presa. Em companhia do alcoólatra sagaz e de bom coração, Guillermo Francella, um coadjuvante que é protagonista pelo seu desempenho extraordinário. A cena da interpretação das cartas seguida da perseguição no estádio de futebol e atingindo o clímax na indagação provocativa e sensual da juíza Soledad Villamil ao acusado, que joga por terra o machismo argentino ou brasileiro, é uma das sequências mais bem-realizadas da arte cinematográfica – é antológica! É de se lamentar que o Oscar de melhor filme estrangeiro vá para o austro-alemão “A Fita Branca”, em virtude de seu diretor Michael Haneke, exageradamente cultuado, ter se especializado em descobrir o ovo da serpente – as raízes do nazismo -, trauma ainda não superado pela humanidade.

Antonio Carlos Gaio:
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