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AMIGOS ATÉ DEBAIXO D’ÁGUA

Você já pensou que o nosso grande problema nas relações pessoais é que desejamos que os outros sejam iguais a nós? Ao menos, parecidos. Ou muito parecidos? Ou quase igual? Em se tratando de amigos, desejamos que eles gostem exatamente do que gostamos, que apreciem o mesmo gênero de diversão, de filmes e de músicas que constituem o nosso prazer. Ou que saibam respeitar nosso silêncio quando a situação exigir.
É muito difícil conviver com pessoas tão diferentes de nós mesmos.
Por vezes, chegamos às raias da infelicidade por essas questões. Até aprender que o gostoso num relacionamento é harmonizar as diferenças. Aprender que as diferenças são importantes, porquanto o que um não sabe, o outro ensina. Aquilo que é difícil para um, pode ser feito ou ensinado pelo outro. É assim que se cresce no mundo. Por causa das grandes diferenças entre as criaturas que o habitam.
A sabedoria divina colocou as pessoas no mundo com tendências e gostos distintos uns dos outros. Tanto em níveis culturais diversos quanto em degraus evolutivos diferentes. Tudo para nos ensinar que o grande segredo do progresso consiste em precisamente estreitar relações uns com os outros, trocando experiências e valorizando as diferenças.
Daí a expressão amigos até debaixo d’água. Lá não é possível se entender com palavras, o gestual pouco ajuda, mas nem por isso classificam o meio de hostil. Ao contrário, a natureza é linda, apesar de prevalecer a lei da sobrevivência, assim na terra, como no céu. Falta o oxigênio vital para nós sobrevivermos, senão seremos apartados de nossa encarnação em poucos minutos, a depender do fôlego de cada um.
Se falta oxigênio debaixo d’água e carece de ar no topo da atmosfera, por que, então, a diferença de personalidades não enseja um apaziguamento de ânimos e uma assimilação progressiva da diversidade? Já que se respira um ar tão rarefeito e estamos sob tanta pressão, seja embaixo de nós ou acima de tudo, por que concentrarmos nossas divergências em polos tão opostos? E não nos amamos nem nos unimos como uma verdadeira Humanidade?

Antonio Carlos Gaio:
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