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O MUNDO AINDA SE GUIA PELAS APARÊNCIAS

Mesmo sendo falso na teoria, até hoje tentam provar que a aparência é tudo. Face ao caráter preconceituoso, ignóbil e perverso no imperfeito dos homens. Face a face com os assaltantes que tiram tudo de nós, com aparência de que não têm nada a perder. Com os seqüestradores que limpam nossa conta bancária, com aparência de maus e escrotos. Chantagistas com cara de rato. Policiais que farejam otários. E políticos corruptos, portadores de aerofagia por comerem muito, com aparência de que rastejam e soltam gases venenosos.
O criminologista italiano Lombroso acreditava poder identificar um criminoso pela sua aparência, relacionando certas características físicas, tais como o tamanho da mandíbula à psicopatologia criminal, ou à tendência inata de indivíduos psicopatas.
Influenciado pela seleção natural de “A Origem das Espécies”, obra de seu primo Darwin, Galton propôs a seleção artificial para o aprimoramento da espécie humana, segundo as leis da eugenia, que poderiam melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações, seja física ou mentalmente – fundamental na ideologia nazista, que culminou no Holocausto. O abuso na discriminação acabaria por classificar pessoas como não aptas para a reprodução, dentre doentes, raças indesejadas e empobrecidos. O temor à degeneração biológica nos EUA estimulou a proibição de casamento e a esterilização coercitiva.
Teorias que perturbaram as idéias da segunda metade do século XIX, primas entre si, que emergiram como reação à abolição da escravatura, que se alastrava pelo planeta e incomodava os racistas, os sucessores dos escravagistas, que ficaram de prontidão para conter o rolo compressor de movimentos humanitários em prol da solidariedade e da proteção aos desvalidos.
O tempo passou e nem por isso a aparência deixou de ser uma referência para julgar quem não presta ou não tem caráter. Mesmo que nos enganemos a respeito do belo rosto por quem nos apaixonamos. Não há como adivinhar o que existe por detrás daquela carinha de bom moço. Daí porque investir santo com caras e bocas, para algumas culturas religiosas, é incorrer no risco de distorcer a fé que se deseja propagar.

Antonio Carlos Gaio:
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