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“ONDE ESTÁ JOÃO GILBERTO?”

Em seu documentário, “Onde está você, João Gilberto?”, Georges Gachot dá continuação a decifrar as chamadas esquisitices, maluquices, excentricidades de João Gilberto, retratadas no livro do alemão Marc Fischer, cujo posterior suicídio em 2011 acabou por firmar uma lenda, mais do que propriamente sobre o gênio que há 60 anos criou a Bossa Nova e a apresentou ao mundo na célebre batida diferente do violão. Ao repetir seu repertório (que não é pequeno) a perder de vista ao longo das décadas, sem nunca mudar o ritmo, João Gilberto alcançou a perfeição e firmou os pilares da bossa nova, o que não impediu que novos arranjos a fizessem crescer. Mas o que não foi investigado no filme, já que não se detém na musicalidade, foram os motivos que levaram João Gilberto a nunca ter posto os pés na Terra, parecendo que por aqui nunca encarnou, pairando como um espírito por entre a harmonia do obalalá, parecendo que já se despediu mas ainda não se foi, insistentemente cantando chega de saudade, minha saudade, garota de Ipanema, o desafinado que provou não ser. A nossa greta garbo incompatibilizada com a espécie humana, precisando ser blindado para não derreter antes do tempo, pois recusando-se a viver nos padrões estabelecidos. Arriscando-se a não encontrar solução em seu riquíssimo mundo interior em razão de ter obstruído seus canais de comunicação. Ilhando-se ao recusar terminantemente uma salvação.

Antonio Carlos Gaio:
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