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PEGA NA MENTIRA

As pessoas não imaginam e sequer se preocupam quando se mostram escorregadias e saem pela tangente ao dizerem que não é bem assim. Sua fisionomia demonstra o contrário. Se pudessem ter um espelho para examinar suas reações, fariam como os deputados que voltaram atrás no bacanal das passagens aéreas no Congresso. É um tique-tique nervoso, a língua de lagarto que entra e sai da boca, um fungar que flagra o cocainômano, o apertar da orelha denunciador da pressão, a tossida estridente reveladora do incômodo e as expressões faciais que, por mais que sejam sutis e variadas, não conseguem esconder a deslavada mentira com que tentam nos fazer de palhaços. Basta desviar os olhos da mira de seu interesse, ficar sem graça, perder a cor ou carregar na ênfase, para configurar que quer passar outra impressão que não aquela que não está nos enganando. O pior é quando se viciam e a mentira se incorpora à própria vida e os transforma num ser gelatinoso. O rosto fica sinistro, raposo, pustulento, senão precocemente cadavérico. Quando o alçar das sobrancelhas fotografa para onde foi seu caráter. Fácil detectar-se mentira: é quando não se encontra firmeza de propósitos.

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Antonio Carlos Gaio:
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