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NÃO EXISTE TEORIA QUE EXPLIQUE AS MANIFESTAÇÕES

Nadejda Tolokonnikova, recém-anistiada integrante do grupo Pussy Riot, tornou-se uma das figuras mais polêmicas da Rússia contemporânea ao ser detida por cantar música punk dentro da catedral de Cristo Salvador, a principal do país, pedindo a saída do presidente russo Vladimir Putin. Aos 24 anos, estudante de filosofia da Universidade de Moscou, foi indicada como a mulher do ano graças à façanha de desafiar a suposta democracia da Rússia de todos os czares, bem como seus lábios carnudos lhe conferiram o título de uma das mulheres mais sexy da Rússia. 
Seguidora de Karl Marx e Slavoj Zizek, filósofo e teórico crítico esloveno que estudou psicanálise em Paris e conhecido por seu uso de Lacan numa nova leitura da cultura popular, abordando temas como o cinema de Hitchcock e David Lynch, o leninismo, fundamentalismo e tolerância, correção política, costumando ser politicamente incorreto e causando diversas polêmicas em vários círculos intelectuais. Ressalta com frequência que, para entender a política de hoje, precisamos de uma noção diferente de ideologia.
Se Nadejda Tolokonnikova já tinha planos de escrever um trabalho científico sobre a filosofia da rebelião e dos protestos sociais, trocou correspondência com Zizek quando presa, que evidenciou a verdadeira tarefa dos movimentos radicais emancipatórios não ser apenas chacoalhar as coisas de sua inércia complacente, mas mudar as próprias coordenadas da realidade social para que, quando as coisas voltem ao normal, haja uma nova estática mais satisfatória.
Em sintonia com a revolta de Nadejda Tolokonnikova quanto a aspectos feudais da sociedade russa sob o governo do czar Putin, vimos o inconformismo com a classe política constatado nas manifestações de 2013 no Brasil, por ela agir conforme os anseios populares somente sob pressão de invadirem os palácios governamentais, e não abrindo mão de seus privilégios, nem que seja implante capilar.
O que se busca é uma nova leitura do anarquismo de Bakunin do século XIX e dos que lutaram contra os monarquistas na Guerra civil espanhola em aliança com os comunistas. Os alienados, burgueses e os defensores da ordem e progresso (positivistas) costumam associar os protestos sociais à balbúrdia e a trazer o caos para o dia a dia, desrespeitando os ícones da tradição civilizatória. 
Quando o que se busca é algo fora da ordem sem o verniz de uma doutrina ideológica e as amarras de um academicismo para estruturar e ensinar o que se deve praticar – a prática é que irá construindo a teoria, caso contrário, não é uma variante da anarquia. A teoria na pretensão de virar a realidade pelo avesso pode se tornar num exercício masturbatório inócuo. Fora o centralismo, que não é democrático! Fora a verticalização que lembra a hierarquia militar! Desconcentrar os poderes para horizontalizar o comando em múltiplas alternativas. Afrontar as forças fardadas da repressão. Não atacar as pessoas nas ruas. Não saquear… êpa, parou por aí! Já há dissidência suficiente para prejudicar a mobilização e impedir de marchar unido. Marchar? Não, partir pra cima. Para o enfrentamento. 
Mas isso é uma revolução? A pergunta que não quer calar e ninguém sabe responder. Aliás, são muitas perguntas para poucas respostas. Então, só resta ir pras ruas e manifestar seu inconformismo. Ou é revolta? Certeza de que não se busca a paz e sim… uma nova ordem? Ordem? Ou uma nova realidade social? Mas se ainda não erradicamos a miséria e a injusta distribuição de renda! O que tem de vir primeiro? Erradicar os males da classe política para, aí sim, se atingir os objetivos colimados? 
Mas como atuar sobre a classe política para corrigir seu rumo, se tudo passa pela eleição? Como obrigá-la a se concentrar no melhor atendimento da rede pública de saúde, no melhor sistema de educação pública, no melhor transporte público e no fim da violência policial, as metas? Se a maneira de reivindicar mudou, com é pau, é pedra, o fim do caminho natural que ameaça as campanhas políticas e, consequentemente, os planos de nossos governantes e dos empresários em 2014. Como reação brusca aos que tentam transformar os eleitores em massa de manobra ou em vaquinha de presépio para eliminar adversários políticos de modo ao eleito se consagrar. Esse é o jogo a ser desmontado para colocar o que no seu lugar, não se sabe. Em nome não mais da anarquia e sim de uma nova realidade social, que ainda não se sabe qual por estar em processo de gestação, sendo amadurecido através de várias mãos.

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Antonio Carlos Gaio
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